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Publicado em 14/08/2018

À direita, volver - Por Gaudêncio Torquato (Observatório da Eleição)

O dado merece boa reflexão: a campanha eleitoral reúne o maior número de candidatos militares dos tempos de redemocratização – 90. Chama a atenção também a quantidade de convocados para as chapas majoritárias estaduais. Em São Paulo, tenentes coronéis comporão como vices as chapas do governador Márcio França (PSB) e do empresário Paulo Skaf (MDB). No Paraná, a governadora Cida Borghetti (PP) terá como vice um coronel aposentado da PM.

O que significa? Algumas hipóteses. Primeiro, o ambiente de deterioração da política, pois a lama da corrupção escorre e afoga protagonistas da política, da burocracia estatal e da iniciativa privada. O mensalão e o petrolão (Lava Jato), as duas operações que ganharam projeção, plasmam a imagem destroçada de representantes, governantes, executivos e empresários. Pôr ordem na bagunça é o apelo embutido no apoio aos militares, que assumem conotação de profissionais sérios, vida pacata e corajosa no combate ao crime, que se expande pelo país.  

O perfil do militar entra na moldura cívica do país quando a sociedade se mostra indignada com a velha política. Puxá-los para a seara eleitoral seria um esforço dos políticos para conferir assepsia aos partidos – desacreditados – e oxigênio às chapas. A hipótese explica a ascensão do protagonista militar que impacta a paisagem: Jair Bolsonaro, ex-capitão do Exército. 

Criticado durante 30 anos de mandato, conhecido por frases fortes, algumas machistas, homofóbicas e xenófobas, Bolsonaro não figurava entre os representantes respeitados da Câmara. Alçou o andar de cima na esteira do clamor social. De repente, seu discurso folclórico ganhou aplausos pelos conceitos a ele atribuídos: “Bandido bom é bandido morto”; “policial bom é aquele que dá tiros, que mata”.

O capitão, cuja vida militar foi marcada por episódios vexatórios – acusado de transgressão grave ao Regulamento Disciplinar do Exército (RDE) – vira antídoto às coisas ruins da política e de contundente guerreiro contra o PT. Com o status de opositor principal ao lulo-petismo, energiza militantes nos aeroportos, sob o grito de “mito”.

Para arrematar a posição ultraconservadora, de modo a sinalizar o recorte militarista, o capitão escolhe um general aposentado, Hamilton Mourão, que abre a campanha atribuindo ao negro a “malandragem” e ao índio a “indolência”, traços de nossa miscigenação cultural. Os dois militares aposentados do Exército, na chapa presidencial, e os coronéis da PM, nas majoritárias nos Estados, fora tantos outros nas proporcionais, constituem um fenômeno da contemporaneidade política.

O arco ideológico exibe fortes traços à esquerda, com o PT e extensões. Abriga também espaçoso habitat do centro e suas proximidades, mas o fato novo é o adensamento da extrema direita, até então meio escondida. Agora, seus simpatizantes aplaudem o lema: “à direita, volver”. 

Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP, consultor político e de comunicação.

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