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Publicado em 23/10/2018

Bancos absorvem quase metade das captações com debêntures (Valor Econômico)

Com liquidez e disposição para dar crédito e a melhora do perfil de risco das empresas, os bancos aumentaram a parcela mantida em carteira das ofertas de títulos de renda fixa que eles coordenam. Do total de R$ 121,1 bilhões captados com essas emissões neste ano, até agosto, apenas 54% foram de fato distribuídos a investidores, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). No ano passado, a fatia vendida a mercado chegou a 80,4% das ofertas de renda fixa.

Somente em setembro, das 19 emissões de debêntures concluídas, 12 acabaram nos balanços das instituições financeiras que participaram da emissão, configurando, na prática, uma operação de crédito bancário. Esse foi o caso da Companhia de Locação das Américas (hoje Unidas), cuja emissão de R$ 400 milhões em debêntures foi integralmente ‘encarteirada’ pelo Bradesco BBI e BB Investimento.

Em outro exemplo, a Suzano captou R$ 4,681 bilhões com uma emissão de debêntures em agosto, que acabou tendo como único comprador o Bradesco.

Do total de R$ 91,8 bilhões originados em ofertas de debêntures no ano, até agosto, apenas 53,7% foram distribuídos no mercado. No mesmo período do ano passado, do total emitido em debêntures, 71,3% tinham ido para as mãos de investidores institucionais e pessoas físicas.

As instituições financeiras estão com espaço nos balanços depois que algumas companhias anteciparam o pagamento de dívidas. Além disso, com a desalavancagem financeira e a recuperação da economia, muitas empresas tiveram uma melhora no perfil de risco de crédito, o que permitiu que voltassem a tomar financiamentos bancários.

Sempre que possível, os bancos preferem conceder empréstimos corporativos via emissão de debêntures, por conta, entre outros fatores, da vantagem fiscal. Diferentemente de uma linha tradicional de crédito, essas operações são isentas da cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Além disso, as instituições podem carregar esses papéis na carteira por um tempo para depois revendê-los no mercado secundário por uma taxa menor, embolsando a diferença.

Mauro Tukiyama, vice-presidente do Comitê de Finanças Corporativas da Anbima, afirma que, de fato, os bancos voltaram a comprar mais debêntures. Ele pondera, no entanto, que esse tipo de operação, em que a oferta pública de debêntures é encarteirada pelos bancos, também é usada para colocar as empresas que estão começando a acessar o mercado de capitais no radar dos investidores.

Esse movimento não tem acontecido apenas com as debêntures tradicionais, mas com as emissões de infraestrutura, que costumam ser compradas principalmente por pessoas físicas, que contam com isenção de imposto de renda. Dados da Anbima mostram que a participação dos coordenadores na subscrição dessas ofertas atingiu 36,3% no ano, até setembro, contra 23,7% do mesmo período do ano passado. A oferta de R$ 250 milhões de debêntures de infraestrutura da Brookfield Energia Renovável, encerrada em outubro, acabou sendo encarteirada pelo Banco do Brasil.

No segmento de debêntures de infraestrutura, como o mercado secundário é muito mais líquido, os bancos acabam comprando os títulos para ganhar com a compra e venda dos papéis na tesouraria, explica Tukiyama, da Anbima. Vale lembrar que as instituições que participam da oferta pública restrita só podem se desfazer dos papéis depois de vencido o período de ‘lock-up’, que é de 90 dias.

Além disso, uma vantagem tributária tem levado alguns bancos a olhar mais para as debêntures de infraestrutura. Em geral, a alíquota de imposto de renda de pessoa jurídica para a aplicação financeira dos bancos é de 25%. Mas, no caso das debêntures incentivadas, alguns bancos têm um entendimento de que essa alíquota seria de 15%, o que traz uma vantagem fiscal para essas aplicações.

Para os emissores, a vantagem de se fazer uma oferta de debêntures com garantia firme dos bancos, em que as instituições coordenadoras se comprometem a subscrever os papéis que não forem colocados no mercado, é a segurança de que a operação será realizada, principalmente em momentos de maior volatilidade nos mercados, como o de agora em meio incerteza eleitoral. Contudo, segundo uma empresa emissora, o custo da captação de recursos com os bancos é, normalmente, mais caro do que acessar diretamente o mercado de capitais.

A Unidas, por exemplo, pagou 110% do CDI em uma oferta de R$ 250 milhões em debêntures com vencimento em 2023 no dia 15 de setembro. Em operação realizada uma semana depois para o mesmo prazo, subscrita pelo Bradesco BBI e pelo BB Investimento, a taxa saiu a 113%. “O custo da operação vai depender do momento do mercado. A primeira oferta previa uma taxa máxima de retorno de 114%, mas no processo de ‘bookbuilding’ [acolhimento das propostas] ela caiu em função da forte demanda, saindo a 110%”, explica Marco Túlio Oliveira, diretor financeiro da Unidas.

Ele afirma que a companhia tem uma estratégia de acessar diferentes fontes de financiamento, e procura distribuir as captações igualmente entre bancos e mercado. Os recursos captados nas ofertas foram usados para reforço de caixa e liquidação de dívidas que estavam vencendo. A empresa pagou notas promissórias que tinham um custo de CDI mais 2,2%.

Apesar da maior disposição dos bancos para ficar com parte dessas emissões, Tukiyama, que também é diretor de renda fixa do Bradesco BBI, afirma que a demanda dos investidores continua grande por papéis de crédito privado.

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