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Publicado em 14/12/2017

Cartões de crédito voltam a crescer com melhora da economia e concorrência (Valor Econômico)

Depois de vários trimestres consecutivos de queda, grandes bancos de varejo começam a notar um aumento na base de cartões de crédito. A recuperação da economia e até mesmo a entrada de novos concorrentes são alguns dos fatores que explicam a retomada, ainda que lenta, desse mercado no terceiro trimestre.

Entre julho e setembro deste ano, segundo dados do último balanço, o número de contas com cartões de crédito do banco Itaú, sem contar os adicionais, saiu de 28,7 milhões para 28,8 milhões. Ainda que pequeno, trata-se do primeiro aumento trimestral desde meados de 2014, quando a base passou de 36,4 milhões no terceiro trimestre para 36,7 milhões no período seguinte. Desde então, todos os trimestres apresentaram queda.

Situação semelhante aconteceu no Banco do Brasil, em que a base de cartões de crédito saiu de 16,5 milhões para 16,7 milhões na virada do segundo para o terceiro trimestre. A última alta verificada antes disso aconteceu no segundo trimestre de 2016.

Na Caixa Econômica Federal, depois de quatro anos de baixas consecutivas, a base de cartões de crédito cresceu 17% ao longo de 2017 até setembro, passando de 6,5 milhões em dezembro do ano passado para 7,6 milhões.

Somados, Banco do Brasil, Itaú e Caixa tinham mais de 35% de participação do mercado de cartões de crédito em dezembro de 2016, segundo levantamento da consultoria Boanerges & Cia. Bradesco e Santander não divulgam os números. Esse último, no entanto, informou que sua base de cartões segue estável.

No fim de 2016 – dado mais recente disponibilizado pelo Banco Central – o número de cartões emitidos pelos bancos chegava a 148,9 milhões, queda de 8,7% em relação ao ano anterior. Essa base vinha diminuindo consecutivamente desde o terceiro trimestre de 2015. De acordo com analistas, no entanto, a tendência é que esse mercado entre em uma trajetória de alta, mesmo que branda.

Dados divulgados pela Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) também mostram recuperação. Segundo levantamento da entidade, o volume gasto no cartão de crédito chegou a R$ 189 bilhões no terceiro trimestre, um aumento de 7,6% em relação ao mesmo período de 2016. A alta foi quase o dobro da variação registrada no terceiro trimestre de 2016 em relação ao ano anterior, de 4%.

“Com a economia um pouco melhor, com o consumidor voltando a comprar, o banco não pode correr o risco de perder esse movimento, então podemos esperar emissão [de cartões] mais forte agora”, afirma Vitor França, consultor da Boanerges & Cia. O especialista explica que, apesar de os bancos estarem mais rigorosos na concessão de crédito – já que a inadimplência cresceu muito durante a crise -, as instituições devem voltar a investir nos cartões de crédito. Isso acontece porque, nesse produto, mesmo que o cliente não use o rotativo ou deixe de fazer parcelamento com juros, os bancos ganham com a anuidade e com as taxas de intercâmbio cobradas a cada transação feita com cartão.

Marcelo Miranda, gerente executivo na diretoria de meios de pagamentos do Banco do Brasil, confirma a tese do consultor. Para ele, com a retomada da economia, a base de cartões deve aumentar, já começando no quarto trimestre deste ano, período em que há maior apelo para compras. “As pessoas planejam viagens, férias, final de ano. Além de datas como Natal e Black Friday, que são importantes para o consumo, e a chegada do 13º salário. Então, tradicionalmente a sazonalidade desse trimestre é forte”, diz.

O Itaú também acredita que a base continuará crescendo sustentada por indicadores de recuperação. Marcelo Kopel, diretor executivo de cartões e veículos do banco, afirma que a tendência é que o número de cartões acompanhe o mercado. “Quanto maior for a estabilidade econômica, mais confiança o consumidor terá e assim a demanda poderá crescer”, diz.

Esse mercado, no entanto, mudou desde que a crise começou. Atualmente, existem fintechs que oferecem cartões de crédito munidos de vantagens como isenção de anuidade ou programas de benefícios como “cashback” – que devolve parte do dinheiro gasto no plástico para abater das faturas seguintes. Só o Nubank, talvez o mais popular entre os cartões de fintechs, contabiliza mais de 2,5 milhões de clientes. O Trigg, lançado neste ano, pretende encerrar 2017 com 50 mil usuários, mas afirma que já recebeu mais de 370 mil pedidos.

Para Vitor França, da Boanerges & Cia, o surgimento desses novos concorrentes no mercado tendem a beneficiar o consumidor, já que os bancos também passam a oferecer produtos com mais vantagens para fidelizar o seu cliente. “A gente tem os novos players que incentivam os bancos a continuar ganhando espaço. Do ponto de vista de emissão, se o banco não tenta colocar seu cartão na mão do cliente, outro vai colocar. Então eu vejo as instituições intensificando essa competição, buscando alternativas”, afirma o consultor.

Exemplo dessa busca por novos produtos foi o lançamento do Credicard Zero pelo Itaú no fim de novembro. O novo cartão não tem anuidade e oferece descontos na compra de produtos de lojas parceiras. Segundo Kopel, o lançamento faz parte de uma estratégia do banco para proporcionar aos clientes uma “melhor experiência de uso dos produtos e serviços”. Desde o lançamento, o Itaú afirma que cartão já recebeu mais de 200 mil pedidos.

“O desenvolvimento desse produto foi diferenciado, construímos cada funcionalidade do cartão em parceria com os clientes. Estruturamos grupos de profissionais multidisciplinares que não param de desenvolver novidades. Está sendo um sucesso. Em poucos dias do lançamento, já recebemos milhares de pedidos do novo cartão”, afirma o executivo.

O Banco do Brasil também destaca que o foco agora é investir na experiência do cliente. Além de oferecer programas de fidelidade e ofertas especiais para os detentores dos cartões, o banco tem investido em tecnologia. A aposta é em plásticos que funcionam via aproximação e que permitem seu uso dentro de carteiras digitais, em que o cliente “guarda” seu cartão em um aplicativo no celular e usa o próprio aplicativo quando for realizar pagamentos.

“Nosso aplicativo tem pagamento por aproximação, o cliente pode pagar com reais ou pontos. Os cartões Ourocard estão dentro do Samsung Pay e também no Android Pay”, afirma Miranda. O executivo destaca que 2017 foi um ano para aprimorar a experiência do cliente, mas que o “portfólio está em constante mutação”.

O executivo conta ainda que as quedas na base aconteceram devido aos ajustes em busca da eficiência operacional e pelo aumento da cautela das pessoas devido à crise. Ele explica que, quando um cliente não usa o cartão e movimenta pouco a conta corrente, o plástico pode ficar inativo. Para o banco, essa ação representa uma economia, principalmente com os royalties que deixam de ser pagos às bandeiras do cartão.

“Fomos aprimorando esse processo e a base foi diminuindo. Outra explicação [para a queda no número de cartões] foi a questão macroeconômica. Vimos que os clientes, principalmente na base do varejo, ficaram cautelosos com o crédito, com aumento do desemprego e queda na renda. Eles querem preservar o cartão de crédito para uma emergência, isso faz a demanda ser menor por cartão”, diz. Miranda destaca, no entanto, que a tendência é que essa “equação” fique positiva, já que o processo de eficiência operacional já está “maduro” e a demanda voltou a aparecer.

Kopel, do Itaú, também atribui as quedas ao contexto econômico. “Passamos por momentos de instabilidade na economia e níveis altos de desemprego. Como o mercado de cartões está relacionado ao poder de consumo das pessoas, essa situação acaba influenciando para haver queda em cartões de crédito”, afirma. Ele destaca, contudo, que a volta da confiança do consumidor faz com que a demanda volte a crescer.

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