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Publicado em 14/12/2017

Fintechs: Empresas oxigenam estruturas complexas (Valor Econômico)

Os bancos investem em tecnologia há quase 60 anos, sempre na vanguarda do digital. No final dos anos 2000, porém, foram surpreendidos pelo fenômeno das fintechs. Mas as instituições financeiras têm conseguido transformar as fintechs num vetor de inovação para oxigenar suas pesadas e complexas estruturas.

Nesta entrevista, Gustavo Fosse, diretor setorial de tecnologia e automação bancária da Febraban, descreve como essa relação foi sendo construída no modelo de complementariedade defendido pela entidade.

Os bancos também abraçaram o blockchain, outra tecnologia a princípio ameaçadora por também carregar um viés de disrupção. Fosse explica como os bancos estão conduzindo pilotos e provas de conceito com a tecnologia, que no próximo ano já será testada em projetos reais.

Valor: As fintechs surgiram como ameaças disruptivas, e os bancos tinham a expectativa de que o Banco Central fosse regulá-las, o que acabou não ocorrendo. Como conseguiram trazê-las para perto, transformando-as em vetores de inovação?

Gustavo Fosse: A Febraban e os bancos acompanham com interesse o desenvolvimento das fintechs, porque inovações tecnológicas que possam trazer benefícios ao consumidor, mantendo a solidez e confiabilidade dos serviços, contribuem para a expansão e aumento da qualidade do setor bancário. Além disso, as parcerias com as fintechs são uma oportunidade para encontrar soluções para sempre aprimorar a experiência do cliente com nossos serviços e produtos. Porém, muitas dessas empresas precisam, legalmente, vincular-se a uma instituição financeira para prestar seus serviços. Acreditamos que as inovações trazidas pelas fintechs deverão levar a uma evolução da regulamentação do setor.

Valor: Como os bancos estão conduzindo seus modelos de complementariedade com as fintechs?

Fosse: Cada banco tem a sua estratégia de negócios com as fintechs e desenvolve iniciativas próprias para lidar com esse elemento de inovação. Os bancos passaram a enxergar essas empresas como fontes de soluções que agregam valor a seus negócios. No passado, boa parte das inovações financeiras era feita dentro das próprias instituições. Hoje há um ambiente mais colaborativo e as fintechs ocupam um importante espaço. A prática tem mostrado que as fintechs não representam concorrência, mas uma operação complementar aos negócios dos bancos.

Valor: Que inovações as fintechs trouxeram para os processos?

Fosse: De maneira geral, trazem soluções de inteligência artificial, big data e analytics, que já são partes integrantes do processo dos bancos digitais. As parcerias permitem que os bancos estejam sempre próximos da onda de inovação disruptiva e também garantem que os clientes dos bancos se beneficiem dos últimos projetos.

Valor: Por que a maior parte dos bancos ainda é reticente em publicar suas APIs [interface de programação de aplicativos]?

Fosse: Vários bancos já disponibilizaram suas APIs para um grupo de soluções que incluem, por exemplo, aplicativos, telas e processos. Os bancos sempre buscam oferecer serviços inovadores e novas comodidades para seus clientes, com um elevado nível de eficiência. E as instituições estão atentas às inovações, tanto é que a Febraban criou uma comissão para estudar as inovações tecnológicas e seus impactos na indústria bancária. A comissão de inovação da entidade debate como aumentar as oportunidades da evolução digital e como impulsionar a inclusão de novas tecnologias no mercado bancário.

Valor: Ainda há áreas de desconforto como os segmentos de criptomoedas e de agregadores financeiros, que têm acesso às contas correntes dos clientes bancários. Como superar esses desafios?

Fosse: As criptomoedas não têm garantia de conversão para moedas oficiais por nenhuma autoridade monetária, ou seja, não há qualquer regulação ou supervisão. Por isso, diante das grandes variações de valor dessas moedas, o risco é todo do usuário. Ressaltamos a posição do Banco Central do Brasil que permanece atento à evolução do uso das moedas virtuais e acompanha as discussões internacionais sobre este assunto com o objetivo de adotar eventuais medidas. Como o Bacen, os bancos também reafirmam seu compromisso de apoiar as inovações financeiras.

Valor: Qual a estratégia para tecnologias como blockchain?

Fosse: A Febraban criou, no ano passado, um grupo de trabalho com bancos associados para estudar a tecnologia e convidou outras entidades do mercado financeiro para participar do projeto, como a CIP, a B3 e o Banco Central. Resolvemos criar um ambiente colaborativo no qual todos os bancos pudessem debater sobre essa tecnologia. O GT Blockchain efetuou vários estudos em diversas plataformas, além de ter feito análises das diversas iniciativas de bancos e fintechs no mundo. Realizamos provas de conceito com um case de cadastro digital fictício e sem fins comerciais. No momento, o grupo iniciou o desenvolvimento de um projeto-piloto. Em 2018, os bancos terão aplicações para serem testadas com dados reais.

Valor: E quanto ao uso de machine learning, inteligência artificial, robôs, big data, que tipo de aplicações estão sendo adotadas?

Fosse: De maneira geral, soluções voltadas para a solicitação de serviços de nossos clientes, bem como para o esclarecimento de dúvidas. A análise de dados possibilita atendimento personalizado, sofisticando a relação entre as instituições e seus clientes. Entre as tecnologias mais populares de inteligência artificial, podemos citar os chatbots, além das plataformas para atender os clientes. O potencial do big data e das ferramentas de analytics já permite que as instituições financeiras conheçam melhor seus clientes.

Valor: Quais os desafios atuais internos dos bancos em relação à sua transformação digital?

Fosse: A forma como os clientes gerenciam suas finanças está em transformação, o que desafia constantemente os bancos a oferecerem serviços que tragam valor além do transacional. O desafio é sempre estar em sintonia com tecnologias como blockchain, inteligência artificial e internet das coisas, que prometem mudar o comportamento do usuário e revolucionar modelos de negócios.

Valor: Os bancos ainda têm legados importantes como as redes de agências e os sistemas de core bancário. Como esses ativos vêm sendo modernizados?

Fosse: As agências passam por um momento importante de readequação e redefinição de papel, adotando cada vez mais um modelo consultivo. Acredito que, por mais que se automatizem os processos, a relação humana jamais deixará de existir. Nesse contexto, a agência se torna um grande diferencial de mercado.

 

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