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Publicado em 25/09/2018

Os Joões no poço (Observatório da Eleição)

Pinço uma parábola de Carlus Matus, o especialista em planejamento estratégico situacional, ministro de Salvador Allende no Chile: “não vê que não vê, não sabe que não sabe”.

João cai num poço de paredes verticais. Tenta escalar e não consegue. Cai toda hora. Um desconhecido ouve o barulho, aproxima-se e joga uma corda para João. Que não a enxerga. O desconhecido grita: “pegue a corda e suba”. Furioso, João responde: “não vê que estou ocupado? Não tenho tempo para me preocupar com sua corda”.

Milhões de brasileiros, como João, caíram no poço e não sabem como sair. Perderam a noção de tempo e espaço, sem nexo entre o ontem e o hoje. A insensibilidade atrapalha seu senso de realidade e uma névoa turva seus olhos. Milhões perderam o emprego, tentando sobreviver com um bico aqui e ali. Incultos, não conseguem descobrir a causa do infortúnio e das angústias, o motivo que esvaziou seus bolsos. Se há alguém responsável por isso são os políticos, “cambada de ladrões”, dizem. Mas, para muitos, há gente santa, como Lula, que lhes deu Bolsa Família, consumo, água do São Francisco, “minha casa, minha vida”. 

Então, na paisagem devastada da política, emerge o fulgurante “Salvador da Pátria”, Luiz Inácio, reverenciado por ter jogado dinheiro para o povo, eternizado pela comunicação fácil com as massas. E até longe das falcatruas. Ora, e o escandaloso mensalão do tempo do 1º mandato? Coisa dos políticos. A maior recessão econômica de nossa história foi fruto do descalabro do governo Dilma, responsável pela fila de Joões que caíram no poço. Explicar que a desgraça que tirou de milhões de brasileiros é da conta Rousseff não entra na cachola popular. Tanto que MG deve agraciá-la com o Senado da República.

Triste é uma Nação cujos governos deixam contingentes sob a amargura de grandes carências. Mais triste é constatar que a tragédia que quase afundou o Brasil foi plasmada nos laboratórios do lulopetismo. É o que se paga quando um líder carismático tem o condão de enganar as massas. Que sina a nossa, de ver que o país ameaça andar para trás. Como? Dois nomes que poderão chegar ao comando empanam os horizontes: um candidato fantoche cujo padrinho, preso, “será o que quiser no governo do PT”, ou um capitão, hospitalizado, cujo livro de cabeceira é “A Verdade Sufocada”, de Brilhante Ustra, coronel da ditadura, considerado torturador.

Se isso ocorrer, adentraremos um território assolado pela barbárie, rachado ao meio. Voltar a conviver sob o mando de uma casta, que se considera vestal, a dominar uma máquina partidarizada, é fechar as portas a um futuro radiante. E reviver a desgraça do populismo. E ver na cadeira central do país um radical que lembra os horrores da ditadura, é viver sob ameaça de golpe em nossa incipiente democracia.

 Há saída? Jogar uma corda para os milhões de joões que caíram no buraco e tentar convencê-los a propor novos cenários. Sob pena de passarmos longa temporada no caos.

Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP, consultor político e de comunicação.

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