A CRISE ESTÁ NOS LIBERTANDO DE PRÁTICAS IMPOSTAS PELOS CEDENTES E SACADOS

Recentemente, escrevi neste espaço que a crise vai antecipar a qualificação do empresário do setor, separando os especuladores dos verdadeiros profissionais desta atividade de aquisição de direitos mercantis.

Com a evolução do mercado nesses últimos dias, observamos que o setor tem se livrado de práticas que nos foram impostas ao longo dos anos. Embora nada tenham de ilegal, sabidamente nos foram infligidas, seja para abrir clientes ou mesmo para se manter no ramo.

As operações comissárias (verdadeiras bombas-relógio com prazo incerto para explodir) deixam de ter sentido; as tranches e os não performados perdem força.

Enfim, mesmo com todas as enormes mazelas pessoais e profissionais, com a perda de receita e, por vezes, de capital, parece ao menos que agora a chave da empresa está voltando para as nossas mãos.

Isso é bom!

Com poucos recebíveis e com o mercado menos demandado e as taxas subindo – e terão ainda algum espaço para alta, até que tenhamos uma volta ao “quase normal” –, as regras de crédito parecem estar aflorando novamente; onde antes era o feeling e o açodamento para não perder o negócio, agora parece prevalecer o conhecimento do setor, qualidade nos documentos e mais, a palavra da vez: cautela!

Então, este é o momento de trazer de volta as boas práticas, a governança, as regras, as análises, os comitês e tantas outras ferramentas que devemos usar para proteger nossos recursos, que além de próprios, são limitados e devem ser preservados ao máximo.

Espero que não tenhamos mais a tentação de manter o cedente/sacado a qualquer preço ou sob imposições externas.

Com cautela, estamos saindo da crise aos poucos, portanto, tenhamos segurança e respeito pelo caixa!

Alexandre Fuchs das Neves é advogado e consultor jurídico do SINFAC-SP – Sindicato das Sociedades de Fomento Mercantil Factoring do Estado de São Paulo.

(Publicado em 28/05/20)