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Publicado em 18/04/2019

Aplicação de pessoa física na bolsa já é a maior em 13 anos (Valor Econômico)

A combinação de juros baixos com o boom de corretoras e plataformas financeiras que facilitam o acesso do investidor ao mercado levou o fluxo de aplicação por pessoas físicas na bolsa a atingir o maior nível em pelo menos 13 anos. Ainda que o saldo de investimentos em renda variável desse público seja muito menor do que o de institucionais e estrangeiros, o aumento da movimentação contribuiu para sustentar o desempenho do mercado de ações nos últimos meses.

Levantamento do Valor com base nos dados da B3 mostra que o fluxo de recursos aplicados por pessoas físicas na bolsa já alcança R$ 4,64 bilhões no ano até o dia 15 de abril, informação mais recente. Para se ter uma ideia do que isso representa, entre compras e vendas, os investidores institucionais aplicaram R$ 1,45 bilhão, enquanto o fluxo de recursos estrangeiros está negativo em R$ 2,17 bilhão no intervalo. Não há registro de uma demanda tão robusta da pessoa física por ações desde ao menos 2006, início da série histórica analisada.

Embora o movimento seja surpreendente pela força, sua continuidade ainda é uma dúvida, na visão de analistas. Se de um lado há perspectiva de sustentabilidade dessa dinâmica por conta do juro baixo e da melhor formação dos investidores, mais informados e preparados para encarar o mercado de ações, de outro, essa é classe mais sensível às mudanças de cenário. Característica do momento atual, a incerteza permeia boa parte dos negócios, com a piora dos indicadores econômicos e os desencontros na frente política brasileira, em especial com a reforma da Previdência em debate.

Para Andres Kikuchi, gestor de renda variável do UBS Wealth Management, a cultura de poupança no Brasil ainda é muito baixa e não está consolidada, o que dificulta estimar a trajetória para os recursos na B3. O nível de poupança interna do Brasil foi de 14,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2018. No Chile, a estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI) é de um nível de 19,5% no ano passado; na China, o percentual pode chegar a 44,6%. "Por isso, é cedo para acreditar que o movimento comprador de ações seja permanente", diz. "A pessoa física é a última a entrar e a primeira a sair."

Kikuchi reconhece que o juro baixo e, principalmente, o maior acesso ao mercado, por meio das novas plataformas digitais, são fatores de estímulo e facilitação na busca pela renda variável. Mas, para que esse fluxo seja perene, é preciso garantir que haja crescimento econômico e, como consequência, da renda disponível para investimento.

"É essencial a reforma da Previdência em um contexto assim, ainda que desidratada, porque isso garantirá um juro baixo por mais tempo e confiança dos agentes na economia", diz Tatiane Cruz, gestora de investimentos da corretora Coinvalores.

Em termos de fluxo financeiro, a onda de aplicação das pessoas físicas só teve semelhante magnitude no início de 2008, com a explosão das aberturas de capital na bolsa. A diferença, agora, é que o juro básico está consistentemente baixo, o que força o investidor a tomar mais risco. A Selic está no nível de um dígito desde julho de 2017; desde março de 2018 a taxa é de 6,5% ao ano. "A perspectiva é que a Selic fique nesses níveis por um tempo muito mais longo do que em qualquer outro período", diz Karel Luketic, analista-chefe da XP Investimentos.

Ainda assim, é fato que o ineditismo do movimento deixa a dúvida de qual será a sua longevidade - e os riscos mapeados não são poucos. "Esse tipo de investidor tem uma tendência cíclica: a bolsa sobe, ele se anima e entra; se cai, ele é sensível à perda de patrimônio e sai", diz Luiz Fernando Alves Jr, sócio-fundador e gestor da Versa, uma das assets beneficiadas pela alta procura das pessoas físicas nos últimos meses. "A perspectiva é boa, mas ou a melhora continua, ou vamos ver uma volta da concentração em estrangeiros e institucionais."

Outros especialistas, porém, mantêm uma visão construtiva, sobretudo depois do avanço do número de CPFs cadastrados na B3, que já se aproxima da inédita marca de 1 milhão: no fim de março, 982,7 mil investidores individuais estavam registrados na bolsa, maior número em uma série histórica desde 2002.

"Esse crescimento é um caminho sem volta", diz Felipe Paiva, diretor de relacionamento com clientes Brasil da B3. "A volatilidade existe, mas é um momento único e diferente: quem vem para a bolsa é mais jovem, perto dos 35 anos, e está em geral mais informado e melhor assessorado, com uma renda disponível maior para assumir mais riscos."

 

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