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Publicado em 11/01/2018

Aumento de juros e calotes adiam renegociação de dívidas para 2019 (DCI)

O crédito para renegociação de dívidas caiu 41,6% desde o início da crise econômica do País – de novembro de 2015 até igual mês de 2017. A alta nos calotes também impulsionou um aumento de 9,1 pontos percentuais dos juros, na mesma relação. Com alto risco, retomada fica só para 2019.

De acordo com o coordenador do MBA de finanças da faculdade Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Valdir Domeneghetti, são várias as questões que envolvem esse aumento dos juros e o decréscimo das composições de dívida.

“O principal viés é que, em meio à crise e na tentativa de receber pelo menos parte do empréstimo feito, os bancos acabaram fazendo muitas renegociações que não viraram [não foram quitadas] e tiveram repercussão negativa em 2017”, explica o especialista.

Segundo os últimos dados do Banco Central (BC), mesmo com os empréstimos voltados para a composição de dívidas atingiram os R$ 2,002 bilhões em novembro de 2017. O valor é 11,5% menor em relação ao mesmo mês de 2016 (R$ 2,262 bilhões) e 41,6% inferior ao visto em 2015 (R$ 3,427 bilhões).

Ao mesmo tempo, a inadimplência da modalidade, de 17,9%, é a segunda maior dentre todas as linhas de recursos livres monitoradas pelo BC, atrás, apenas, do cartão de crédito rotativo (36,5%) e acima até do cheque especial (14,2%).

Em novembro de 2016, os calotes estavam em 17,8%, enquanto no mesmo mês de 2015, eram de 16,9%.

“Com o grosso das renegociações acontecendo em 2015, o reflexo da inadimplência aconteceu nos dois anos seguintes. Agora, mesmo com a redução da Selic, os juros praticados ainda estão exorbitantes com o risco que os bancos enxergam com isso”, diz o membro do Conselho Federal de Economia (Cofecon) João Bosco Ferraz de Oliveira.

Ainda de acordo com a entidade monetária, os juros da modalidade seguiram uma trajetória ascendente até agosto de 2017, quando atingiu o maior valor em mais de dois anos (62,2% ao ano).

Em novembro, nos últimos dados do BC, as taxas de juros ficaram em 58,8% a.a., 3,5 pontos percentuais (p.p.) acima do observado em igual mês de 2016 (55,3%) e 9,1 p.p. maior do que o visto em 2015 (49,7%), na mesma relação.

Segundo Domeneghetti, a tendência da linha, agora é de ir na contramão do mercado.

“Há um cenário bastante positivo para que os empréstimos como um todo tenham fôlego ao longo deste ano, mas quem renegocia foge um pouco da limpeza na carteira que os bancos querem e devem ir no sentido contrário”, afirma.

Para o assessor econômico da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (FecomercioSP) Altamiro Carvalho, porém, a tendência é de que mesmo restritas, as renegociações das dívidas continuem.

“O banco não tem a menor ilusão de que vai conseguir todos os pagamentos dos juros que coloca. A composição de dívidas já faz parte da estratégia do sistema financeiro”, observa o assessor econômico.

“Hibernação”

Quanto aos impactos macroeconômicos e políticos de 2018, por outro lado, os especialistas reforçam a necessidade de andamento das reformas e da agenda do governo, mas ponderam que da parte de renegociação de dívidas, a tendência ainda é de espera.

“Quem tinha dívida pendente e podia contratar essa linha, já o fez. Quem não renegociou, agora, espera oportunidades e condições melhores. Principalmente da parte das empresas, ainda há muita incerteza sobre o futuro do País”, analisa Oliveira, do Cofecon.

Já para Carvalho, as reformas – principalmente a da Previdência – tem um papel “preponderante” no mercado.

“Não apenas pela reforma em si, mas pelo que ela significa. Aprová-la seria sinalizar uma margem de manobra maior e uma válvula de escape para os gastos do governo”, comenta o especialista e completa que tudo vai depender da agenda a ser colocada e da própria corrida eleitoral.

“Teremos um período de turbulências muito forte em 2018 que colocará em prática uma das duas correntes muito diferentes que temos em perspectiva hoje. Ou o País entra em default ou teremos um fôlego essencial na política fiscal”, acrescenta Carvalho.

“Este ano será de hibernação, onde tomadores e credores estarão de olho no ambiente macroeconômico e político. Se tivermos o processo de transição que todo mundo espera, com um novo perfil de governante, a expectativa é que esse processo caminhe sem grandes dificuldades, mas, ainda assim, só deve ficar para 2019”, conclui Oliveira.

Carteiras podres

Além disso, os especialistas ponderam um movimento bem mais forte na venda de “carteiras podres” por parte dos bancos ao longo de 2018 – cessão de créditos vencidos ou renegociados às empresas especializadas em cobrança. Nos últimos três anos, a negociação dessas carteiras já soma mais de R$ 200 bilhões.

“A tentativa agora é de limpar os balanços e o cenário está propício para isso, mas sem a renegociação como foco, a venda desses ativos ruins continuará”, diz Domeneghetti.

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