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Publicado em 24/08/2017

Banco reduz crédito a grandes empresas (Valor Econômico)

Depois de sofrerem calotes que custaram bilhões em provisões nos últimos anos e pisarem no freio na concessão de crédito em meio à crise, os bancos sinalizaram que, mesmo com a retomada da atividade, o crescimento da carteira de financiamento a grandes empresas deve perder força daqui para frente. As companhias continuarão tendo acesso ao crédito bancário, mas os recursos de longo prazo deverão vir principalmente de fontes alternativas, como o mercado de capitais.

Não falta dinheiro nos bancos hoje para emprestar. Pelos cálculos da agência de classificação de risco Fitch, durante a crise, ao restringir o crédito, o sistema financeiro acumulou um adicional de capital da ordem de R$ 300 bilhões, além do mínimo regulatório. Isso permitiria uma expansão da ordem de R$ 2 trilhões em financiamentos no país.

Nos últimos dois anos, o saldo de financiamentos para grandes empresas em Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander encerrou o primeiro semestre deste ano em R$ 714 bilhões, redução de 8% – ou quase 20% em termos reais. No mesmo período, a carteira de crédito total das instituições financeiras, incluindo as linhas para pessoas físicas e empresas menores, recuou 4%.

A retração é atribuída principalmente à falta de demanda por dinheiro novo em consequência da crise, segundo Alexandre Glüher, vice-presidente e diretor de relações com investidores do Bradesco. “Nossas taxas de aprovação se mantiveram altas, mas nos últimos anos as empresas priorizaram a reorganização de seus passivos”, afirma.

O aumento do risco em meio à crise levou os bancos a revisarem seus modelos de aprovação de crédito, mas isso não significa que as instituições querem deixar de operar com as grandes empresas, pondera Alberto Fernandes, vice-presidente do Itaú BBA. “As carteiras dos bancos se ajustaram ao nível da demanda por crédito, mas em algum momento vão voltar a crescer”, diz.

O crédito mais caro e escasso para as companhias ocorreu ao mesmo tempo em que a concentração no setor bancário aumentou com os recentes movimentos de consolidação no setor – como a incorporação do HSBC Brasil pelo Bradesco e a expectativa pela aprovação no Banco Central da compra dos negócios de varejo do Citibank pelo Itaú Unibanco -, o que tem levado a reclamações por parte de empresários. O tema também desperta preocupação no governo, que vê no crédito um canal para estimular a retomada da economia.

Sem contar os desembolsos de bancos de desenvolvimento, como o BNDES, as quatro maiores instituições financeiras do país respondiam por R$ 79 de cada R$ 100 emprestados no país no fim do ano passado, de acordo com o Banco Central. Em março, essa relação caiu para 78% – ainda assim segue no maior nível em pelo menos dez anos, segundo cálculos do Valor Data. Para efeito de comparação, antes da crise financeira de 2008 essa relação era de R$ 60 para cada R$ 100 em financiamentos.

O principal índice internacional que mede a concentração de mercado (IHH) para operações de crédito atingiu 1.741,7 no fim do ano passado, último dado disponível, atingindo seu pico histórico. Pelo critério do BC, o Brasil ainda está na faixa considerada como de concentração “moderada” em crédito, mas o índice está cada vez mais próximo do patamar de 1.800, a partir do qual o sistema é visto como de elevada concentração.

A concentração bancária é uma realidade não apenas no país, segundo o executivo do Itaú BBA. “O problema é o quão dependentes as empresas são dos bancos nos mercados onde há concentração”, diz. Para Fernandes, os recursos para os investimentos de longo prazo no país deverão partir de outras fontes, como o mercado de capitais.

“Em nenhum lugar do mundo se financia a infraestrutura com balanço de banco”, afirma. Fernandes diz que o papel das instituições deve ser o de oferecer dinheiro para linhas como capital de giro e assumir o risco no financiamento de projetos de infraestrutura durante a fase de construção, quando não há demanda no mercado.

O mercado de capitais já tem atuado como “concorrente” dos bancos no crédito a grandes empresas, segundo Rafael Noya, diretor da área de banco de investimento do Santander. “Hoje, uma empresa com bom rating não vai querer o dinheiro do banco, porque consegue se financiar mais barato no mercado”, diz.

Enquanto o saldo de crédito às grandes empresas cai, as captações de recursos com títulos privados de dívida e ações no mercado local atingiram R$ 74,1 bilhões entre janeiro e julho deste ano. O volume representa alta de 36% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com dados da Anbima, associação que representa as instituições que atuam no mercado de capitais.

A procura por novos financiamentos bancários pelas grandes empresas ainda é fraca, mas está próxima do ponto de inflexão, segundo o diretor do Santander. “Esperamos ver uma demanda maior por investimentos até o fim deste ano”, afirma.

O Banco do Brasil também espera uma retomada do financiamento com a estabilização da economia. Em entrevista recente ao Valor, o presidente da instituição, Paulo Caffarelli, atribuiu a redução da oferta de crédito à atuação cíclica de algumas instituições, que tende a se reverter com a retomada da atividade. Ele afirmou, contudo, que o mercado de capitais também precisa ser considerado na composição de mix de captação das grandes empresas. “No final do dia, é um funding disponível, com um custo que o mercado vai regular e que não vai concorrer com os limites de crédito dos bancos”, disse.

A expectativa é que o dinheiro dos bancos volte a se tornar atrativo para as empresas quando a percepção de risco de crédito diminuir, diz Claudio Gallina, diretor responsável por instituições financeiras da Fitch. “Difícil imaginar um cenário em que os bancos vão deixar um negócio bom na mesa”, afirma.

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