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Publicado em 30/03/2017

Bancos sobem spreads para ‘congelar lucros’ frente a Selic menor e riscos (DCI)

A alta inadimplência e a queda da taxa básica de juros (Selic) somadas à baixa demanda levaram os bancos a subirem em 0,7 ponto percentual os spreads para “manter a lucratividade”. Tendência, porém, não é sustentável e deve mudar no segundo semestre.

De acordo com os últimos dados divulgados ontem, pelo Banco Central (BC), os spreads bancários foram de 41,8 pontos percentuais (p.p.) em janeiro, para 42,5 p.p. em fevereiro. A diferença é ainda maior na comparação com igual mês de 2016 (35,8 p.p.).

Segundo o assessor econômico da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), Altamiro Carvalho, a resistência é parte de uma “atitude defensiva e preventiva” por parte das instituições financeiras.

“Eles estão congelando a lucratividade, exatamente porque a receita com operações financeiras tende a diminuir, seja por demanda ou seja pelo repasse dos juros. Os bancos estão tentando proteger e antecipar um lucro ao se ancorar no spread”, identifica Carvalho.

Ele comenta que “não há outra explicação”, uma vez que a taxa de risco já demonstra recuos. “Os condicionantes de mercado apontam para uma queda no endividamento das famílias e das taxas de juros, não há respaldo técnico. O problema vem na projeção de que as operações de crédito também vão cair. Daí o medo a resistência em acompanhar a Selic”, acrescenta o assessor.

Ainda de acordo com os dados do BC, apesar de o volume de concessões já vir com manutenção (sem grandes altas ou baixas) ao longo de 2016, o nível registrado em fevereiro foi o pior em mais de dois anos, tanto para pessoas físicas quanto para jurídicas.

Nos consumidores, a queda foi de 10,6% em fevereiro frente janeiro (de R$ 157,9 bilhões para R$ 141,2 bilhões) e de 3,9% em relação a igual mês de 2016 (R$ 147 bilhões).

Já para as empresas, o recuo foi de 10,1% na comparação mensal (de R$ 101,4 bilhões para R$ 91,1 bilhões) e de 17,1% ante fevereiro do ano passado (R$ 109,9 bilhões).

Para o diretor de novos negócios da PH3A e especialista em crédito, Marcelo Monteiro, porém, é exatamente a menor demanda por crédito como reflexo da recessão que também implica em consumidores com “perfis duvidosos” dentro das instituições financeiras.

“O estoque de empréstimos de alto riscos ainda é grande dentro dos bancos e manter o spread elevado é para compensar possíveis perdas”, diz.

Ele pondera que é uma forma de “financiar a limpeza da carteira”, tirando as dívidas de alto risco para, só então, diminuírem os spreads.

De fato, mesmo que a inadimplência tenha apresentado números relativamente estáveis em fevereiro, o patamar em que os calotes se encontram segue alto. Segundo o BC, a inadimplência para pessoas jurídicas está em 5,2% e, para pessoas físicas, em 5,9%.

“O problema começa quando começamos a olhar os produtos. São as linhas com maiores saldos que apresentam o maior nível de calotes, como por exemplo cheque especial e rotativo cartão de crédito, que estão com 15,8% e 33,2%, respectivamente”, diz Monteiro.

Dose certa

No movimento de tendência, por outro lado, os especialistas entrevistados pelo DCI afirmam que os bancos já haviam ponderado esses números ao longo de 2015 e 2016 e que, na teoria, o aumento dos spreads bancários não se sustenta no médio e longo prazo.

“Os bancos continuam receosos porque os indicadores da atividade econômica ainda embutem um prêmio de risco grande nas operações, o que também impede que a Selic caia na medida que os bancos querem ver para fazer esse repasse”, analisa o economista da Infinity, Jason Vieira.

Ele comenta que, nesse sentido, há um “custo estrutural” embutido em reformas fiscais, por exemplo, que limita uma redução da taxa básica de forma mais pronunciada.

“O mercado força a barra muitas vezes e o contexto inflacionário é afável ao ciclo de corte da Selic, mas não dá para errar na dose porque os juros estruturais podem dar problemas no meio do caminho”, complementa o economista.

Nesse sentido, por outro lado, a necessidade de retomada da economia, principalmente pelo crédito concedido como investimento ou para consumo, irá exigir uma mudança mais “drástica” nos bancos.

“O acesso mais difícil ao crédito com o aumento do spread não é sustentável no longo prazo. Isso acaba sendo um impeditivo de qualquer operação e não tem como usufruir da demanda minoritária do mercado que pode tomar recursos. Eles terão que mudar e isso será visível no segundo semestre”, conclui Carvalho.

Isabela Bolzani

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