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Publicado em 30/04/2020

BC alerta para forte crescimento de ativos problemáticos de bancos (Valor Econômico)

Um amplo diagnóstico feito pelo Banco Central dos impactos potenciais da crise do coronavírus no setor financeiro mostra que os ativos problemáticos dos bancos no crédito a pequenas e médias empresas e a pessoas físicas poderão superar os patamares observados no auge da recessão encerrada em 2016.

Um teste de estresse feito pela autoridade monetária sustenta que, num cenário hipotético extremo em que a pandemia provoque uma aumento de provisões de R$ 395 bilhões, os bancos teriam que levantar R$ 70 bilhões em capitais para recompor os requerimentos mínimos de capital regulatório. Nessas circunstâncias, levaria estimados três anos para o mercado de crédito se recuperar.

As estimativas foram apresentadas no Relatório de Estabilidade Financeira (REF) do segundo semestre de 2019, que foi atualizado com dados e avaliações mais recentes para explorar como o sistema financeiro brasileiro poderá atravessar a crise.

Em entrevista para apresentar o documento, o diretor de Fiscalização do BC, Paulo Souza, divulgou um balanço atualizado dos efeitos das medidas de injeção de liquidez e relaxamento de exigência de capital dos bancos no volume de crédito bancário. Os dados corroboram reportagem publicada ontem pelo Valor que mostra que, por ora, há relativamente pouca demanda pela linha criada pelo governo para financiar folhas de pagamento.

Em fins de 2016, devido à recessão, a proporção de ativos problemáticos das carteiras de crédito a pequenas e médias empresas atingiu 15%. De lá para cá, os bancos fizeram um penoso trabalho de limpeza de suas carteiras que baixou esse índice para 9% no fim de 2019. Os ativos problemáticos são uma medida mais ampla da saúde das carteiras de crédito dos bancos, incluindo não apenas operações em atraso, mas aquelas em que o devedor demonstra pouca capacidade de pagamento.

Já o cenário para os ativos problemáticos das grandes empresas é considerado incerto pelo BC, embora os riscos relacionados a essas companhias tenham aumentado e sejam “um dos principais pontos de atenção”, diz o relatório. No caso das pessoas físicas, os ativos problemáticos estão próximos das mínimas históricas, mas houve deterioração nas safras mais recentes de financiamento de veículos e crédito não consignado. O BC diz que, a exemplo das pequenas empresas, esses ativos problemáticos podem superar o pico de 2016.

No teste de estresse apresentado no relatório, o Banco Central procurou identificar um conjunto de setores que serão mais afetados pela crise do coronavírus e a repercussão de um eventual default dessas empresas em fornecedores e funcionários. Tomando como base essas premissas, chegou a uma estimativa de uma necessidade de provisões de R$ 395 bilhões no sistema bancário. Nesse caso, as instituições financeiras precisariam de R$ 70 bilhões, o equivalente a 7,2% do patrimônio de referência (PR) do sistema financeiro, para se enquadrarem nos limites de capital regulatório. Já o Índice de Basileia cairia de 19,5% para 15,3%.

De maneira geral, a autoridade monetária avalia que o sistema financeiro está suficientemente sólido para atravessar a pandemia, já que iniciou o ano líquido, bem capitalizado e com provisões consideradas suficientes para enfrentar um aumento do risco de crédito.

“Mesmo nessas condições, as simulações continuam demonstrando que os bancos brasileiros possuem capacidade para enfrentar situações de estresse”, sustenta o BC. “Se tem alguma coisa que a gente pode destacar de positivo em relação ao atual cenário é que tanto o sistema financeiro quanto as grandes empresas estão muito mais bem preparados do que há três, quatro anos”, afirmou Souza. Um mapeamento do BC mostra que a maioria das companhias com divida em dólares tem alguma proteção contra oscilações cambiais.

Entretanto, uma eventual piora severa da conjuntura pode fazer com que as instituições financeiras percam nos próximos anos a sua capacidade de dar o suporte necessário à atividade econômica. Com base na rentabilidade vista em crises anteriores, o BC calcula que seriam necessários três anos para que o sistema se recuperasse totalmente.

Segundo o balanço feito por Souza das medidas adotadas pela autoridade monetária para combater a crise, até a segunda-feira a linha emergencial de crédito para a folha de pagamento de pequenas e médias empresas atendeu aproximadamente 9,4 mil empresas e 124,2 mil empregados, desembolsando R$ 156,4 milhões. A linha tem capacidade de oferecer R$ 40 bilhões em dois meses.

“Realmente, em abril boa parte da folha [de pagamento] já tinha sido fechada. Muitas empresas não tinham o produto nos bancos. A própria questão operacional de implantar um novo produto não é tão simples. Alguns bancos só conseguiram colocar plenamente o produto na prateleira no dia 20”, disse, afirmando que a tendência é que os empréstimos ganhem força em maio. Segundo ele, pode haver “algum tipo de frustração” em relação às medidas, mas o BC poderá aprimorá-las, se necessário.

No balanço, Souza destacou que os bancos renegociaram 6 milhões de contratos, no valor de R$ 355,2 bilhões, dentro das novas regras que flexibilizaram as exigências de provisão nessas circunstâncias. Isso, de acordo com ele, oferece um alívio de R$ 35 bilhões nas parcelas pagas por famílias e empresas nos próximos dois a seis meses.

Segundo Souza, entre 16 e 24 de março as novas contratações de crédito somaram R$ 267 bilhões, enquanto as renovações chegaram a R$ 78 bilhões. “As concessões estão ocorrendo em todos os segmentos, tanto no S1, que representa os maiores bancos, quanto nos menores bancos”, disse o diretor do BC.

Também até segunda, os empréstimos com lastro em Letras Financeiras (LF) garantidas haviam registrado a adesão de 18 bancos, com os ativos garantidores somando cerca de R$ 45 bilhões. A expectativa do BC é que os recursos sejam liberados aos bancos a partir de maio. Essa medida, disse Souza, será importante porque empresas devem deslocar para o mercado doméstico a demanda por financiamento que atendida no exterior e no mercado de capitais doméstico.

Já os empréstimos com lastros em debêntures chegaram a 470 operações, somando R$ 5,7 bilhões. Por sua vez, 41 instituições financeiras haviam emitido R$ 1,5 bilhão em Depósitos a Prazo com Garantia Especial (DPGE) com garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).

 

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