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Publicado em 23/02/2017

BC mantém ritmo e corta Selic a 12,25% (Valor Econômico)

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu ontem a taxa básica de juros da economia em 0,75 ponto percentual, para 12,25% ao ano, e indicou que avaliará a possibilidade de intensificar o ritmo de corte e sinalizou que considera possível levá-la a um dígito ainda neste ano.

No comunicado apresentado após a decisão, que foi unânime e veio dentro do esperado pelo mercado financeiro, o Copom deixou de dizer que cortes de 0,75 ponto são o ritmo a ser imprimido neste ciclo de redução dos juros, deixando em aberto qual o tamanho dos movimentos nas próximas reuniões. O colegiado volta a se reunir nos dias 11 e 12 de abril. O Copom também deu indicações de que o ciclo de distensão monetária atual, que começou em outubro de 2016, poderá ser maior do que o que vinha sendo sinalizado até então. Pelo comunicado, o quanto os juros vão cair dependerá das estimativas que o BC fará daqui por diante sobre a taxa estrutural da economia.

A taxa estrutural (ou “neutra”) é aquela que gera o máximo de crescimento com inflação dentro da meta. Esse é um conceito mais abstrato do que algo que pode ser medido concretamente, e os economistas costumam ter visões diferentes sobre o seu valor atual.

“O Copom entende que a extensão do ciclo de flexibilização monetária dependerá das estimativas da taxa de juros estrutural da economia brasileira”, diz o comunicado. Num outro trecho, o comitê diz que, por sua vez, “uma possível intensificação do ritmo de flexibilização monetária dependerá da estimativa da extensão do ciclo”, além de fatores como o crescimento da economia, cenário inflacionário e riscos na economia internacional, entre outros. No comunicado, o BC também disse que a redução da taxa de juro estrutural da economia está relacionada à aprovação e implementação de reformas na economia.

O Copom indicou que os juros podem cair a um dígito de forma indireta, por meio de suas projeções de inflação. No comunicado, o Copom diz que, se os juros caírem a 9,5% ao ano em fins de 2017 e para 9% em 2018, como espera o mercado, a inflação ficará dentro da meta, respectivamente em 4,2% e em 4,5%.

Segundo Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra e ex-secretário do Tesouro, aumentou a probabilidade de uma aceleração do passo para 1 ponto percentual em abril. “Ao falar em ‘intensificação’ e não mais em ‘revisão’ do ritmo de flexibilização monetária, o BC deixa a porta aberta para acelerar o ciclo. A possibilidade de corte de 1 ponto em abril é significativa”, diz Kawall. Para ele, com as expectativas de inflação ancoradas, a intensificação do ritmo de corte de juros vai depender dos dados de atividade até abril. “Se ficar parecendo que a atividade patinou no primeiro trimestre e que o crescimento do PIB pode ficar abaixo do 0,5% do consenso neste ano, ele pode fazer um ciclo de corte mais acelerado”, diz.

Para o BC, o comportamento da inflação permanece favorável, e o processo de desinflação é mais difundido atingindo, também, preços mais sensíveis à fraca atividade econômica e às decisões de política monetária, como os de serviços. Foram justamente esses componentes dos índices de preços que justificaram a postura mais cautelosa do BC no fim do ano passado, rendendo críticas de excesso de conservadorismo.

A inflação de alimentos está entre os fatores positivos do balanço de riscos para a inflação, ou seja, aqueles que podem fazer a inflação cair mais do que o previsto. Para o BC, a evolução favorável da inflação dos alimentos pode se espalhar para outros preços da economia e ter impacto positivo nas expectativas de inflação.

Ainda no balanço de risco, o BC aponta um fator que poderá tanto baixar a inflação mais do que o esperado quanto fazê-la ficar mais alta: a atividade econômica. “O alto grau de incerteza no cenário externo pode dificultar o processo de desinflação e que a recuperação da economia pode ser mais (ou menos) demorada e gradual do que a antecipada”, diz a ata.

A parte dedicada ao cenário externo, o BC aponta que o quadro ainda é bastante incerto, mas que, até o momento, a atividade econômica global mais forte e o consequente impacto positivo nas commodities tem mitigado os efeitos sobre a economia brasileira de revisões de política econômica em algumas economias centrais.

Maurício Molon, economista-chefe do Santander, disse que o comunicado do Copom dá o tom de que pode vir a reduzir de forma mais acentuada a taxa Selic no curto prazo, ainda que o orçamento para os juros no fim de 2017 e 2018 não mude porque é compatível com o alcance da meta no ano que vem. Para Molon, os mercados tendem a reagir hoje com redução de prêmios e inclinação mais acentuada da curva de juros no curto prazo, embutindo a possibilidade de um corte de 1 ponto em abril.

“Trabalhamos com corte de 0,75 nas próximas reuniões, mas reconhecemos que o BC abre um flanco para acelerar os cortes nos juros”, afirmou ao ressaltar que isso pode ocorrer se a trajetória de inflação se mostrar ainda mais favorável, se a recuperação da atividade econômica se provar mais difícil ou se o câmbio chegar a R$ 3 ou vir para baixo disso. “Se tiver surpresa daqui para frente vai ser no sentido de aceleração no ritmo de cortes”, diz Molon. “Mas eu não conto com essas surpresas.”

Para Rodrigo Melo, economista-chefe da Icatu Vanguarda, o BC pode elevar o corte de juros para 1 ponto se a atividade econômica vir aquém do esperado ou se as expectativas de inflação caírem ainda mais para 2018 ou 2019. “Podemos ver o BC intensificar o ciclo de corte de juros. A autoridade monetária colocou esse cenário na mesa.” A Icatu Vanguarda projeta uma taxa Selic de 9,25% para o fim de 2017, mas Melo diz que não descarta a possibilidade de os juros encerrarem o ano mais baixos.

Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos, não descarta a possibilidade de os juros encerrarem 2017 em 8% se a reforma da Previdência for aprovada de modo satisfatório, ou seja, se não for desfigurada pelo Congresso. Para a economista, sem essa reforma vai ser difícil que a taxa Selic encerre o ano em um dígito porque o cenário certamente será de depreciação cambial e de piora do risco, o que seria ruim para inflação. Na ata a ser publicada na próxima semana, Solange avalia que o BC deve alterar a percepção sobre cenário externo, deixando mais claro que, para o Brasil, o interregno continua benigno – embora ninguém saiba até quando. É possível que o documento inclua também, diz, uma visão mais benigna sobre a inflação de serviços, que deixou de ser um fator de risco.

Com relação à possibilidade de alteração da meta de inflação, Solange diz que é preciso aproveitar o momento oportuno para alterá-la. “A inflação esperada no boletim Focus já está abaixo de 4,5% e vai cair mais com o real mais apreciado. É uma oportunidade muito favorável de mudar a meta de 2019.”

“O BC deixou a porta aberta para intensificar o ritmo de corte, mas isso não altera nossa projeção e achamos que vem uma queda de 0,75 ponto em abril”, afirma Raphael Ornellas, economista do banco Brasil Plural. Para ele, havia fundamentos para ampliar o corte de juros para 1 ponto percentual na reunião de ontem, mas a queda de 0,75 ponto estava dentro do cenário do mercado.

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