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Publicado em
07/11/2017
O estoque de certificados de recebíveis do agronegócio (CRA) aumentou 57,95% no ano até ontem para R$ 27,59 bilhões. Em dinheiro novo, representa uma expansão líquida de R$ 10,12 bilhões sobre o estoque de R$ 17,46 bilhões de dezembro de 2016.
Na visão de especialistas consultados pelo DCI, o bom momento do agronegócio brasileiro num período em que os bancos reduziram a oferta de crédito com recursos direcionados está incentivando a busca por alternativas de financiamento no mercado de capitais.
“As grandes empresas do agronegócio e da agroindústria estão conseguindo captar num custo bem mais baixo que a Selic, entre 98% a 99% do DI com a emissão de CRA”, exemplifica o gerente de investimentos da Concórdia, Mauro Mattes.
Para efeito de comparação, em setembro último, a taxa média de juros para pessoas jurídicas no crédito rural estava em 8,1% ao ano para taxas reguladas, em 9,8% ao ano em taxas do mercado, enquanto a referencial do DI (depósito interfinanceiro) estava em 8,14% ao ano.
Essa competitividade do custo do CRA para os emissores em relação aos juros do sistema financeiro é explicada pelo incentivo da isenção do imposto de renda para investidores pessoas físicas. “A maior parte das ofertas de CRA é pela instrução CVM 400 [pública], são poucas, as emissões restritas (ICVM 476)”, disse.
Os dados do Banco Central até setembro também confirmam que o saldo de crédito rural com taxas de mercado havia diminuído 7,9%, e com taxas reguladas tinham sido reduzidas em 21,9% neste ano. “Com o crédito mais escasso, as grandes empresas buscam alternativas como o CRA. Em função do incentivo fiscal, até se diminui o custo desse financiamento”, argumentou o diretor da Ativa Wealth Management, Arnaldo Curvello.
Em números, as concessões de crédito rural pelo sistema financeiro (bancos) com taxas de mercado para empresas somaram R$ 14,215 bilhões, e outros R$ 31,645 bilhões com taxas reguladas até setembro.
Nesse período de nove meses, a expansão líquida dos CRAs já representava R$ 8,245 bilhões em recursos por meio do mercado de capitais, ou seja, uma fatia de 15% de um total de R$ 54,1 bilhões destinados às empresas do setor.
O gerente da Concórdia lembrou a captação via CRA tem sido utilizada em estruturas de recebíveis para: crédito à exportação (ex. papel e celulose), pela agroindústria, indústria de insumos agrícolas – química, fertilizantes, máquinas e equipamentos; e de alimentos. “Em geral, são empresas de primeira linha e bom rating de crédito. Temos os exemplos mais diversos, do Burger King na agropecuária, e do Pão de Açúcar para hortifrutigranjeiros”, conta Mattes.
Quanto ao risco para os investidores pessoas físicas, o gerente alertou que diferente das letras de crédito do agronegócio (LCA), o CRA não tem a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). “A liquidez [capacidade de resgate rápido] é restrita, mas com o crescimento do mercado secundário tem aumentado”, diz o gerente da Concórdia.
A aplicação é voltada apenas para investidores qualificados com mais de R$ 1 milhão em aplicações financeiras, de altíssima renda e do private banking (milionários). O ticket médio de uma CRA fica entre R$ 100 mil a R$ 200 mil. “O investidor deve analisar a carteira ou procurar um especialista para se informar melhor. Um CRA é diferente do outro”, avisa Arnaldo Curvello, da Ativa.
Recuperação no exercício
Em outubro, o volume de emissões de títulos de dívida corporativa (debêntures, notas, CRAs, CRIs e FIDCs) foi de R$ 15,3 bilhões, contribuindo para o total de R$ 104,3 bilhões no acumulado de 2017, volume que ultrapassa o total emitido em 2016. O estoque atingiu R$ 418,7 bilhões. “Com a baixa dos juros fica mais interessante para o emissor captar”, diz o superintendente de produtos da B3, Fabio Zenaro.