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Publicado em 23/06/2020

Caso Wirecard ameaça "fintechs" europeias (Valor Econômico)

Havia poucas escolhas para os investidores europeus em tecnologia mesmo antes do escândalo contábil na Wirecard. Agora ficou ainda mais difícil encontrar ações adequadamente proporcionais a um preço razoável.

As ações da estrela cadente alemã das “fintechs” despencaram mais 45% ontem após a empresa ter dito haver uma “probabilidade dominante” de que o saldo de € 1,9 bilhão (US$ 2,1 bilhões) em dinheiro que a companhia não conseguiu encontrar na semana passada não existe. As parceiras comerciais em países em que a Wirecard não tem licença própria para operar são as responsáveis pelo grosso dos lucros nos últimos anos, de acordo com uma auditagem especial condenatória da KPMG publicada no fim de abril. Esses lucros parecem cada vez mais fantasiosos.

Os mentores da ascensão da empresa deixaram-na na semana passada, entregando o saneamento para um americano, James Freis, que foi contratado no mês passado para a recém-criada função de diretor de conformidade (“compliance” em inglês). O único fator reconfortante é o fato de ele parecer perfeitamente qualificado. Um profissional formado em direito em Harvard que passou sete anos combatendo os crimes financeiros para o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, ele capitaneou anteriormente as funções de conformidade e de combate à lavagem de dinheiro para a Deutsche Börse, o mercado de capitais da Alemanha.

Para os muitos críticos da Wirecard, o único elemento surpreendente em torno de sua implosão é o tempo que ela levou para acontecer. Por que tantos gestores de recursos continuaram a confiar nela, mesmo diante do acúmulo das evidências de irregularidades contábeis?

Um dos motivos para isso é o fato de a Wirecard ter sido um raro caso de empresa tecnológica alemã para o qual o “establishment” do país desejava, desesperadamente, sucesso - e para defendê-lo empenhou esforços extraordinários, entre os quais uma proibição temporária às vendas a descoberto no ano passado. A empresa, além disso, se desdobrou para silenciar os céticos, inclusive por meio da contratação de investigadores particulares.

O terceiro motivo encerra uma incômoda lição para os investidores em tecnologia de modo mais geral: os alardeados pagamentos digitais da Wirecard eram fáceis de vender. O setor já era altamente movimentado, e seu movimento subiu ainda mais com a crise da covid-19.

Outras ações de pagamento europeias dispararam diante do tropeço da Wirecard. Pode haver uma ligação: na medida em que notícias de erros contábeis na empresa alemã se tornaram mais difíceis de desqualificar - notadamente quando a KPMG protocolou sua auditoria -, as gestoras de empréstimos de curto prazo perderam um dos canais de um tema de investimento da moda, o que as obrigou a superutilizar outros.

O mais próximo congênere da Wirecard na bolsa é uma empresa holandesa também envolvida, primordialmente, no fluxo do comércio eletrônico, a Adyen. No fim de abril, a Adyen, que tem exposição significativa ao setor de viagens, disse que seus volumes semanais de transações estariam por volta de 30% inferiores em comparação ao início do ano.

Apesar disso, sua ação subiu 77% nesse ano. Os investidores estão relevando os problemas atuais em favor de um mundo pós-pandemia no qual a tecnologia de pagamentos da Adyen seja muito mais amplamente usada. A causa fundamental defendida pelo mercado parece ser uma “mudança acelerada e permanente para um comércio eletrônico maior”, escreveu o analista Robert Lamb, do Citi, em nota divulgada no começo deste mês. Mas a ação da Adyen ainda parece cara, a um recorde de 52 vezes suas vendas, comparativamente ao fator de 16 vezes registrado pela Square e ao de nove vezes computado pela PayPal.

Este é um problema que cerca há muito tempo os papéis de empresas de tecnologia na Europa, onde há muito dinheiro para um número pequeno demais de participantes, e onde a aceleração das tendências digitais na pandemia só está piorando as coisas. Os investidores no setor europeu como um todo enfrentam um risco mais convencional do que as almas ingênuas que confiaram na Wirecard: apostar exageradamente num crescimento que pode não ocorrer com a rapidez esperada.

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