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Publicado em 02/03/2017

Com estoques em baixa, negociação na indústria deve ficar mais acirrada (DCI)

Diante do movimento da indústria de trabalhar com estoques cada vez menores – desde o insumo até o produto acabado -, a negociação com o varejo e até entre os próprios níveis da cadeia produtiva deve ficar ainda mais acirrada, quadro que deve perdurar em 2017.

De acordo com o presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Guto Ferreira, a indústria se ajustou fortemente em 2016 e, agora, os fabricantes estão trabalhando com níveis menores de estoques com o objetivo de economizar em capital de giro.

“O ‘estresse’ nas negociações das empresas aumentou muito e as margens para barganhar entre os níveis da cadeia estão bem menores”, disse o dirigente.

Conforme o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), Walter Cover, o movimento de redução de estoques tanto na indústria quanto no varejo do setor vem ocorrendo desde meados de 2015.

“Hoje, os estoques estão muito baixos entre os fabricantes porque o custo financeiro de mantê-los é altíssimo”, revela o dirigente.

Ele acrescenta que este movimento gera pressão nas margens da própria cadeia e aumenta o poder de barganha no varejo de materiais de construção em relação ao consumidor. “Os lojistas não vão arriscar elevar as compras sem perspectiva de retomada consistente da demanda”, explica Cover. “E os fabricantes, por sua vez, têm concedido mais descontos para o varejo, mesmo diante da crise.”

O diretor geral para América do Sul da siderúrgica NLMK, Paulo Seabra, conta que a indústria tem trabalhado com estoques praticamente nulos.

“Os fabricantes recebem o pedido e imediatamente recorrem a seus fornecedores”, diz o executivo. “Nossos clientes não têm conseguido estimar a demanda por conta da instabilidade econômica, por isso vêm trabalhando da mão para boca”, assinala.

Neste cenário, a companhia optou por investir altas cifras justamente no aumento dos seus estoques. “O cliente vai preferir pagar um pouco mais pelo nosso produto porque a usina vai pedir um prazo que ele não pode esperar”, conta.

Na visão de Seabra, a perspectiva de retomada gradual da economia a partir do segundo semestre não deve trazer uma mudança de comportamento por parte da indústria. “Os fabricantes devem continuar mantendo estoques baixos em 2017.”

A Açovisa, distribuidora de aços Gerdau, tem notado esse movimento da indústria desde meados de 2015. “Os clientes não têm previsão de demanda e ainda pagam os pedidos à vista”, conta o sócio-fundador Andreis de Melo.

Ele ressalta que, para 2017, os fabricantes devem manter essa postura. “O fluxo de caixa das empresas continuará restrito e reduzir estoques alivia a pressão”, analisa o executivo.

Estabilização

Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a queda dos estoques em janeiro deste ano foi menos intensa do que a registrada no mês anterior. Já o índice que mostra a relação entre o planejamento das empresas e os estoques efetivos se manteve praticamente estável na mesma base de comparação.

“Os fabricantes estão agindo com mais cautela até para reduzir os prejuízos. A indústria tem conseguido ser mais assertiva na previsibilidade de estoques”, avalia Ferreira.

Ainda de acordo com sondagem da CNI, os empresários estão voltando a demonstrar certo otimismo com relação às vendas, entretanto, o índice de expectativa de demanda se manteve praticamente inalterado em fevereiro, tendo recuado 0,1 ponto, para 51,8 pontos. Acima de 50 pontos, o indicador revela otimismo.

Ferreira traça um paralelo entre o momento atual com a crise de 2008. “À época, a indústria brasileira foi fortemente afetada, mas a retomada do crescimento foi muito mais rápida”, explica o dirigente.

Com isso, conta o dirigente, os fabricantes passaram a elevar gradualmente a capacidade instalada até meados de 2011. “O auge da demanda da indústria brasileira ocorreu nesse momento”, pontua. “Mas por volta de 2014, a atividade voltou a cair, atingindo um ponto crítico nos dois anos seguintes”, complementa.

O presidente da Abramat comenta que a indústria de materiais de construção vive um momento particular. “Nunca tivemos uma utilização tão baixa da capacidade”, relata Cover. Segundo o dirigente, hoje o nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) do setor está em 67%. “Este é um sintoma de como a indústria está trabalhando com estoques baixos”, acrescenta.

Ferreira diz ainda que o aumento do “estresse” nas negociações entre os níveis da cadeia atinge a todos os portes de empresas. “Em um outro cenário, talvez o pequeno cedesse à pressão de grandes companhias e abrisse mão de suas margens, mesmo em um momento de crise. Hoje, se este empresário fizer isso, ele pode quebrar”, avalia.

Neste sentido, Ferreira acredita que este é um momento de aprendizado para a indústria. “As empresas estão aprendendo a lidar com essa situação e a negociação tende a ficar mais ‘comercial’, ou seja, sem grandes perdas para nenhum dos lados”, estima.

Juliana Estigarríbia

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