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Publicado em 16/04/2020

Concessão de crédito cresce 40% após liberação de compulsórios (Valor Econômico)

As concessões de empréstimos às empresas cresceram mais de 40% em março, segundo o Valor apurou, evidenciando que a liberação de depósitos compulsórios pelo Banco Central está tendo os efeitos esperados de manter os sinais vitais do mercado de crédito na crise do novo coronavírus.

As taxas estão mais altas e nem todas as empresas estão conseguindo acessar as linhas de financiamento da forma esperada. Cresceu fortemente a demanda por dinheiro das grandes empresas, que sacaram recursos de linhas rotativas para manter o caixa abastecido no período de incerteza gerado pela pandemia.

Mas o BC vislumbra a normalização dos níveis de liquidez do sistema bancário como um todo a partir de meados de maio. Espera-se que sejam liberados recursos em abundância aos bancos pequenos e médios no novo sistema de assistência financeira de liquidez lastreado pela recém-criada Letra Financeira Garantida (LFG).

O aumento de mais de 40% nas concessões de empréstimos livres a empresas em março, na comparação com o mesmo mês do ano passado, representa uma velocidade quatro vezes maior do que a observada antes da crise do coronavírus. O dado oficial relativo a março de 2020 será divulgado pelo BC em duas semanas. Em março de 2019, os bancos emprestaram R$ 135 bilhões às empresas no crédito livre.

A alta nas concessões reflete sobretudo a primeira medida de liberação de compulsórios, no valor de R$ 49 bilhões. O BC anunciou uma segunda liberação, de R$ 68 bilhões, mas nos últimos dias do mês.

O Banco Central está monitorando o destino dos compulsórios liberados, embora o dinheiro não tenha carimbo e a decisão de conceder empréstimos seja exclusivamente dos bancos, que seguem os seus critérios de avaliação de riscos. As evidências são de que, ao contrário do que tem se afirmado, os recursos não estão ficando empoçados nos bancos.

Alguns especialistas vem afirmando que, num cenário de incerteza como o atual, os bancos podem estar retendo os compulsórios em seu próprio caixa para atravessar um período potencialmente difícil. Mas os indicadores de liquidez dos bancos não sofreram alteração desde o começo da crise do coronavírus. No caso dos três grandes bancos privados, têm se mantido entre 130% e 140% no chamado indicador de liquidez de curto prazo (LCR, na sigla em inglês). Nos bancos públicos, estão acima de 200%.

Esses percentuais medem quanto os bancos têm em caixa em relação ao mínimo exigido pelas regras de Basileia 3. Os bancos não estão buscando reforçar sua liquidez porque entendem que, com esses níveis de LCR, estão com colchão suficiente. Os requerimentos de Basileia 3 são calculados de forma conservadora - o que sempre estimulou queixas dos bancos -, com base em testes de estresse que levam em conta cenários comparáveis à atual pandemia.

Mas a liquidez, por enquanto, se concentra nos grandes bancos. São os que tinham mais compulsórios retidos no Banco Central e, portanto, os mais beneficiados com a sua liberação. A partir do dia 20 o BC estará capacitado para receber os primeiros pedidos de auxílio de liquidez garantidos pela LFG - que, por sua vez, terá como lastro operações da carteira de crédito dos bancos.

Com esse instrumento, que têm potencial de até R$ 650 bilhões em operações, a autoridade monetária planeja chegar às instituições financeiras de menor porte. O dinheiro deverá ser liberado nas primeiras semanas de maio. Embora o volume potencial seja grande, o BC espera que mesmo com a contratação de uma fração desse valor poderá melhorar as condições de liquidez do sistema bancário.

Será um alívio importante para o mercado de crédito, mas os juros dos empréstimos tenderão a ser mais altos do que antes da crise do coronavírus. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tem lembrado que a pressão do custo dos empréstimos reflete sobretudo dois fatores: o aperto de liquidez e o aumento do risco de crédito.

Com a liberação de dinheiro para o sistema, o Banco Central consegue desarmar a pressão nos juros bancários provocada pelo aperto de liquidez, num momento em que as empresas passaram a demandar mais recursos. Mas, à medida que a pandemia afeta a economia real, os riscos de solvência de empresas e famílias seguirá pronunciado.

Os bancos também estão fazendo a rolagem das dívidas com vencimento nos próximos dois meses da forma esperada, com um montante de R$ 200 bilhões. Há reclamações de pessoas físicas e empresas de que os bancos estão cobrando taxas de juros mais altas, mas até agora a autoridade monetária não constatou que isso tenha de fato ocorrido.

Algumas circunstâncias na própria rolagem de dívida podem levar a um aumento do débito. O adiamento de parcelas para serem pagas meses depois levam a um aumento no valor devido, já que os encargos originalmente contratados incidem por um período maior. Os bancos também podem cobrar juros mais altos se os clientes, na rolagem, contratam um volume maior de empréstimo - mas esse juro mais alto se aplica apenas no dinheiro novo liberado.

Muitos dos comentários de especialistas de que o dinheiro dos compulsórios está empoçado se deve ao fato de que o Banco Central recolhe parte dos recursos logo em seguida, com as chamadas operações compromissadas.

Em março, o BC liberou R$ 109 bilhões nas contas das instituições financeiras, a maior parte referente a compulsórios. Mas recolheu R$ 178 bilhões por meio de operações compromissadas. Nos primeiros sete dias de abril, recolheu R$ 7 bilhões dos bancos e R$ 145 bilhões em operações compromissadas.

Esse recolhimento dos recursos, porém, não significa empoçamento de liquidez. Isso é parte da administração monetária. O Banco Central recolhe diariamente o excesso de liquidez na economia para evitar que a taxa básica de juros, a Selic, caia abaixo da meta definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom), hoje de 3,75% ao ano.

Os recursos liberados aos bancos sob a forma de compulsórios circulam no sistema bancário e na economia real antes de voltarem ao BC. Entra em operação também o que se chama de multiplicador monetário. Ou seja, a transformação de empréstimos de um banco em depósitos em outro, que se recicla em empréstimos e depósitos, de forma sucessiva. O multiplicador monetário é tanto maior quanto menor for a alíquota de compulsórios, que faz o dinheiro rodar mais no sistema bancário e na economia.

Há também um alívio importante nas condições financeiras nas operações da dívida pública feita pelo Tesouro Nacional. O Tesouro deixou de rolar R$ 121 bilhões de seus papéis que tiveram vencimentos desde o começo da crise, além de R$ 18 bilhões que resgatou antecipadamente. Esse dinheiro foi injetado pelo Tesouro na economia. Em seguida, o BC recolheu esse excesso de liquidez por meio de operações compromissadas.

Houve um alívio de caixa na economia porque, nos papéis do Tesouro, os investidores estavam aplicados em um prazo mais longo e tinham uma sensibilidade maior à variação na taxa de juros (tecnicamente, estavam expostos a uma maior “duration”). Nas operações compromissadas, os prazos dos papéis são menores, com disponibilidade muito próxima de dinheiro em caixa.

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