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Publicado em 26/01/2018

Crédito a grande empresa ainda demora para voltar (Valor Econômico)

O crédito a grandes empresas, que encolheu nos últimos anos, ainda está em território negativo e vai levar um tempo para se recuperar. Mesmo assim, há boas razões para otimismo: a política saiu da sala, os juros caíram à metade e a atividade econômica volta, aos poucos, a se aquecer. Essa é a leitura de Alberto Fernandes, vice-presidente responsável pelas áreas de banco de investimentos e de atacado do Itaú BBA.

“As coisas estão melhorando. As empresas estão se desalavancando, a taxa de juros ajuda bastante, e as vendas estão aumentando”, afirma. O executivo, que concede raras entrevistas, recebeu o Valor para uma conversa sobre o mercado e atuação do banco no segmento corporativo. Segundo ele, a recuperação da atividade tem sido mais rápida que o esperado e os casos problemáticos de companhias – como Sete Brasil e Oi – já não causam mais surpresas desagradáveis para as instituições financeiras. “Está tudo mapeado.”

O efeito prático dessas mudanças ainda não aparece nos números do crédito porque há muita ociosidade na indústria e um movimento forte de redução do nível de endividamento. O tombo também não foi pequeno. A carteira de operações do Itaú com grandes empresas encolheu 13,4%, para R$ 105,6 bilhões, no período de 12 meses encerrado em setembro, dado mais recente disponível. Nas demais instituições, não foi muito diferente.

Já se nota estabilidade na proporção entre concessões de empréstimos e amortizações, mas um crescimento mais significativo do volume de financiamentos só deve ocorrer no ano que vem, calcula Fernandes. “Se você perguntar se a carteira de crédito a grandes empresas está se recuperando, a resposta é não, porque isso é lento”, diz. “Mas o mercado está muito melhor. A gente não senta mais com cliente para ficar discutindo política. A gente senta com ele para discutir o que vai acontecer em 2018 ou 2019 com a empresa, com o investimento.”

Não é que os fatos políticos tenham saído do radar dos empresários ou que a eleição presidencial não seja fonte de preocupação. Porém, existe de um lado a percepção de que a questão fiscal terá de ser atacada seja lá quem for o próximo presidente. E, de outro, a recuperação econômica impõe uma nova agenda às companhias. “O salário está subindo, emprego lentamente se recuperando e as pessoas estão comprando. Então, se eu ficar sentado aqui e não produzir, não vendo”, ressalta Fernandes.

Para o executivo, essa percepção dos empresários é o que vai alimentar o crédito. No entanto, a retomada virá acompanhada de uma mudança profunda no mercado, que já começa a ficar visível. Mantido o cenário atual de estabilidade econômica e taxas de juros estruturalmente baixas, o mercado de capitais tende a ocupar um espaço que antes era quase todo preenchido pelos empréstimos bancários. Somam-se a esse dois outros fatores. Um deles é que as novas regras de capital vão encarecer os recursos das instituições financeiras. O outro é que a recessão atingiu em cheio as grandes empresas e forçou os bancos a constituir provisões bilionárias em seus balanços – uma experiência que nenhum deles deve querer repetir.

“Antes, a empresa vinha aqui e pedia um crédito por 15 anos, um repasse de BNDES, por exemplo. Agora, vou dar por três anos, cinco anos, mas o longo prazo eu não vou fazer”, diz.

Essa nova realidade não é ruim para os bancos. Crédito proporciona escala, mas operações de mercado de capitais – como ofertas de ações e emissões de títulos de dívida – são mais rentáveis por consumir menos capital.

De acordo com o executivo, o Itaú BBA se preparou para isso. No fim de 2015, a instituição reorganizou as áreas de atacado e banco de investimentos, que passaram a ter em Fernandes um comando único. Desde então, as equipes olham para o cliente como um todo e identificam quais operações fazem mais sentido para ele. Pode ser um empréstimo, uma captação no mercado de capitais ou uma combinação de ambos.

Essa estratégia foi reforçada com a crise econômica. No início do ano passado, o Itaú BBA criou um comitê de negócios, que reúne executivos de diversas áreas, para analisar as operações de uma forma multidisciplinar. Depois que o comitê de crédito faz uma análise da demanda de um cliente, o comitê de negócios entra em cena e discute que tipo de solução será entregue. Além do dinheiro em si, a oferta pode incluir produtos como câmbio, derivativos e “cash management” (serviços de gestão do caixa).

“A gente exacerbou o controle de portfólio. Vamos fazer concessões de prazos menores, ajudar mais o cliente com solução de mercado de capitais, e ser mais proativos”, afirma Fernandes.

O portfólio ficou menos concentrado, numa tentativa de evitar as flutuações na carteira vistas nos últimos anos. “Quem dá crédito perde em algum momento. Faz parte”, diz. “O que não pode é ter duas ou três operações que, se dão problema, arrebentam com seu portfólio inteiro.”

De acordo com o executivo, a lógica agora no banco é ter uma carteira de crédito um pouco mais pulverizada e oferecer às empresas uma solução mais estruturada. “Não é mais uma questão de eu dou o dinheiro e ele faz o que quer”, afirma.

O vice-presidente do Itaú BBA reconhece, porém, que em dado momento os próprios bancos incentivavam as empresas a tomar empréstimos de longo prazo. Quando veio a crise, muitas dessas operações desembocaram em inadimplência e num volume recorde de renegociações de dívida e processos de recuperação judicial. O sistema financeiro atravessou esse período sem grandes problemas, mas executivos do setor têm sido unânimes ao dizer que a relação com o crédito corporativo mudou.

“A gente continua com uma vontade louca de dar crédito porque esse é o nosso negócio”, afirma Fernandes. “Mas o perfil tem que ser diferente”.

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