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Publicado em 22/08/2017

Crédito sinaliza início de retomada (Valor Econômico)

Depois de dois anos e meio de forte contração, o mercado de crédito dá sinais mais consistentes de que o momento de piora foi superado e uma retomada pode acontecer. Em praticamente toda as modalidades, as novas concessões e a inadimplência estabilizaram ou dão sinais de melhora, deixando o sistema financeiro mais propenso à oferta de crédito no momento em que a economia ensaia uma recuperação, dentro de um ambiente de queda dos juros e de desalavancagem das famílias.

“De maneira geral, o mercado de crédito está mostrando sinais de alguma melhora e isso envolve praticamente todas as modalidades. A inadimplência parou de crescer, as concessões pararam de cair”, afirma o diretor de fiscalização do Banco Central (BC), Anthero Meirelles, em entrevista ao Valor.

Meirelles deixa o cargo nas próximas semanas depois de dez anos de diretoria. Esteve à frente das áreas de administração (2007 a 2011), regulação (fevereiro a abril de 2015) e fiscalização (2011 a 2017). “Essa recuperação na margem é sempre algo que temos de olhar com certo cuidado, mas quando percebemos alguma reação em várias modalidades é de se imaginar que a recuperação pode ganhar consistência”, avalia.

Um dos principais canais de transmissão da política monetária é o crédito. E a taxa básica, a Selic, já caiu de 14,25% para 9,25% ao ano e novas reduções estão a caminho, com o mercado trabalhando com juro de 7,5% no fim deste ano. As taxas reais, descontada a inflação projetada, já estão entre 3,2% e 3,5%.

Com a política monetária sendo distencionada, a tendência é de aumento tanto na demanda quanto na oferta de crédito. E o sistema financeiro está bem posicionado para dar vazão a esse processo.

“Houve uma limpeza das carteiras, o crédito total recuou, inclusive como proporção do PIB. Os bancos deram conta desse processo de limpeza e materialização de perdas, mantendo bons níveis de capitalização, provisionamento e liquidez. O ambiente, nesse aspecto, é propício à retomada”, explica Anthero Meirelles.

A depuração das carteiras de crédito é ilustrada não só pelo bom comportamento da inadimplência, mas também pela dinâmica dos chamados ativos problemáticos, conceito mais amplo que além dos calotes considera as operações reestruturadas, mais os créditos de pior qualidade, com classificação entre E e H, que demandam maior provisão por parte dos bancos.

No Relatório de Estabilidade Financeira (REF) de dezembro de 2016, esses ativos problemáticos estavam ao redor de 8% do estoque, com a taxa do crédito corporativo em 8,3%, maior da série iniciada em 2012 e quase o dobro da taxa de 2014. No caso das pessoas físicas, essa relação estava na linha dos 7,3%, maior desde 2013. No entanto, análises mais recentes, considerando dados até junho do sistema financeiro, sugerem que essa métrica parou de piorar e ensaia uma reversão.

Essa limpeza reduz a necessidade de provisões, que seguem ao redor de 6,9% do estoque de crédito, maior desde o fim de 2009, e aumenta a disposição a emprestar dos bancos, que tendem a repassar ao tomador final a queda no custo de captação decorrente do atual estágio do ciclo monetário.

Segundo Meirelles, o comportamento da inadimplência tem de ser visto da seguinte forma: os calotes vinham crescendo no passado tanto porque o crédito não estava crescendo, quanto pelo aumento da inadimplência em si. Ou seja, o denominador estava constante ou caindo e os créditos líquidos em atraso aumentando. Agora, estamos vendo alguma recuperação do crédito, o denominador da relação, e no caso o numerador, que é a inadimplência, está diminuindo ou parando de aumentar.

Ainda de acordo com Meirelles, os créditos em atraso estão diminuindo por dois aspectos. Os que entraram em inadimplência e não se recuperaram foram baixados a prejuízo. E o fluxo das novas inadimplências está se reduzindo.

Tal movimento reflete a maior seletividade dos bancos na concessão que se observa desde 2010 e 2011. Além disso, as taxas de calotes elevadas de 2015 e 2016 eram uma inadimplência de créditos concedidos em momentos de mais euforia e menor critério da concessão.

A tendência que se desenha é de inadimplência menor à frente. Os dados sugerem que houve limpeza grande nas carteiras em um ciclo de retração incomum, com dois anos de queda acentuada no Produto Interno Bruto (PIB).

“Agora, a dinâmica desse processo vai depender da própria retomada. Se a retomada for maior, esse movimento se acentua, porque as empresas ganham capacidade de honrar seus créditos. Então esse ciclo virtuoso tende a ser intensificado. Evidentemente que se a recuperação demorar, ele será mais lento”, explica Meirelles.

Detalhando a avaliação, Meirelles nota que o crédito à pessoa física já vinha se estabilizando há algum tempo e que agora o crédito corporativo parou de piorar e mostra sinais de melhora, mas ainda marginais. O único segmento que não mostra reação é o crédito ao investimento.

No lado dos calotes, o setor corporativo já parece ter deixado para traz as grandes recuperações judiciais dos últimos dois anos, mas os dados ainda são negativos.

As recuperações judiciais são outro indicador de possível melhora do mercado. Olhando os dados da Serasa, entre 2012 e 2014 o número anual rondava 800, subiu acima de 1,2 mil em 2015, e para 1,8 mil em 2016. Agora em 2017, de janeiro a junho, foram requeridos 685 pedidos, queda de 25,8% sobre igual período de 2016.

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