FECHAR

Imprimir
Publicado em 26/09/2017

Custo e digitalização levam banco a reduzir caixas eletrônicos (Valor Econômico)

O aumento do uso de plataformas digitais para transações bancárias e a popularização dos terminais compartilhados, além do custo de manutenção e questões de segurança, estão levando ao encolhimento daquele que já era um dos principais canais de operações até pouco tempo: os caixas eletrônicos dos bancos (ou ATM, sigla de “Automatic Teller Machine”).

No primeiro semestre de 2017, o número de caixas eletrônicos próprios dos bancos Itaú, Banco do Brasil e Santander registrou queda em relação ao mesmo período do ano passado. O Itaú tirou 814 máquinas de circulação; no Banco do Brasil, 4.539 equipamentos deixaram de ser usados; e, no Santander, a redução foi de 517 caixas.

Dentre os cinco maiores bancos do país, o único que registrou aumento nos primeiros seis meses de 2017 foi o Bradesco, mas, segundo o banco, isso ocorreu por conta da incorporação dos caixas do HSBC e da instalação de novos equipamentos em agências em que o banco identificou uma demanda maior por operações nesse canal. Na Caixa Econômica Federal, que ainda não divulgou o balanço do segundo trimestre, o número de terminais vem caindo desde 2015 – em linha com o mercado.

Segundo dados do Banco Central, os últimos disponíveis, 2016 acabou com 6.431 terminais a menos, para 175.947 postos. O movimento de redução começou em 2015, com 2.068 ATMs saindo de circulação, totalizando no fim daquele ano 182.378 máquinas, no que foi a primeira baixa desde 2008, início do levantamento do BC.

Por outro lado, os caixas eletrônicos do Banco24Horas, que executam transações de várias instituições em um mesmo equipamento, tiveram um crescimento de 10% no primeiro semestre do ano, com aumento de 1.874 pontos. Operadas pela empresa TecBan, essas máquinas – que permitem ao correntista fazer transações básicas, como saques e transferências – têm substituído equipamentos dos bancos principalmente em locais públicos.

Com a digitalização cada vez maior dos serviços bancários, que passaram a ser realizados via celular e internet banking, os caixas eletrônicos vão perdendo apelo. A principal função, segundo especialistas, acaba sendo o saque. Mesmo assim, dados do BC mostram que a retirada de dinheiro nesses terminais caiu 5% no último ano, primeira queda desde 2008.

“As pessoas vão ao ATM para sacar dinheiro. E com a digitalização dos bancos, os pagamentos tendem a ser virtuais e o caixa acaba ficando menos necessário. Então, ele pode cair em desuso”, explica o consultor Ricardo Mollo, ex-diretor do Itaú. Ele acrescenta que a redução do número de terminais também está ligada a questões de segurança e corte de custos.

Segundo especialistas, os gastos para instalar e manter um caixa eletrônico próprio são muito altos, já que além da manutenção do serviço também é preciso contratar empresas de segurança para abastecê-los. Um executivo de um grande banco afirma que o custo mensal de manutenção dos ATMs externos (fora da agência) gira em torno de R$ 20 mil. Já o preço do terminal é de cerca de R$ 30 mil.

O compartilhamento então surge como uma forma de cortar despesas. “Como são compartilhados, os gastos são divididos e uma só empresa fica responsável por ele, o que costuma ser mais eficiente”, explica Juliana Inhasz, professora de finanças do Insper.

Cassius Schymura, diretor da plataforma multicanal do Santander, afirma que diminuir o número de caixas não é uma política adotada unicamente devido à segurança, mas reconhece que o tema tem relevância na discussão. “É um tema importante no Brasil. Realmente é o único país do Santander que acontece de explodirem agência, caixa. O que nós tentamos fazer é orientar o cliente a usar app, internet banking, mas não especificamente falamos de segurança pública.”

Uma evidência da importância da segurança no Brasil é a orientação do Banco Central e da Febraban para que os bancos coloquem limites para o valor sacado nos caixas após as 22h.

No caso dos caixas do Banco24Horas, as instituições financeiras pagam um valor mensal para a TecBan, que, segundo Mollo, é “contratada como se fosse um serviço terceirizado”. Essa “mensalidade” acaba sendo mais baixa do que os gastos que uma instituição teria para manter sozinha determinada quantidade de caixas eletrônicos. Além disso, as instituições ainda podem cobrar tarifas dos clientes pelo uso desses terminais compartilhados, o que acabaria suprindo parte desse gasto. Entre os acionistas da TecBan, estão os maiores bancos do país.

A tendência, segundo o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Eduardo Diniz, é que o correntista seja cada vez mais um “cliente do sistema bancário” e não de uma instituição específica. “A ideia é que o sistema bancário migre para um nível de cooperação maior, como as redes de pagamento. O Banco Central começou a fazer pressão em cima disso com as redes de POS, com o fim do arranjo fechado, e isso também está acontecendo nos ATMs. É uma tendência, faz parte de uma lógica para tornar o sistema inteiro mais eficiente”, diz.

Em nota, a TecBan afirma que “a tarifação é definida exclusivamente por cada instituição” e que “a maioria dos bancos igualou as regras do uso do Banco24Horas às da sua rede”, o que significa que o pacote de serviços contratado por aquele correntista pode ser usado em qualquer um dos dois canais e só será cobrada uma taxa adicional caso o cliente exceda o que lhe é oferecido mensalmente, independentemente dos caixas que tenham sido usados.

Schymura, do Santander, reconhece a utilização cada vez menor do papel moeda, mas afirma que a parceria com a TecBan serve para suprir as necessidades dos clientes. “Na visão do cliente, com esse acordo de compartilhamento o número de postos para operações cresceu no primeiro semestre. Nós temos otimizado o serviço, com os caixas da TecBan em lugares estratégicos. Não tem uma direção de acabar ou diminuir com esse serviço, porque na nossa economia, embora esteja diminuindo, ainda existe o uso de papel moeda, que é a principal finalidade dos caixas”, diz.

O Banco do Brasil afirma em nota que “os terminais do Banco24Horas estão substituindo terminais de grandes bancos em vários locais”, o que “gera maior eficiência operacional e permite que clientes de várias instituições financeiras tenham acesso à realização de transações”. O banco ainda frisou que os hábitos dos correntistas também mudaram, com foco cada vez maior em canais digitais e “sensível redução do uso de outros canais, como os terminais de autoatendimento”.

Também em nota, a Febraban diz que “o parque de equipamentos [ATMs] instalados vem passando por um movimento de consolidação do mercado, com a adoção de terminais cada vez mais multifuncionais – aqueles que permitem a realização de várias funções num mesmo equipamento – e em conformidade com normas de acessibilidade”.

A entidade afirma ainda que, de acordo com sua mais recente pesquisa sobre tecnologias bancárias, os correntistas mantiveram a mesma regularidade de uso dos caixas eletrônicos nos últimos dois anos, com dez bilhões de transações tanto em 2016 quanto em 2015, o que representa 16% do total de 65 bilhões de operações feitas no ano passado.

A Febraban ressalta, no entanto, que o canal preferido dos brasileiros é o mobile banking, responsável por 21,9 bilhões das transações realizadas em 2016 – quase o dobro do montante registrado em 2015. Procurados, Bradesco e Itaú não quiseram se pronunciar. A Caixa Econômica está em período de silêncio devido à proximidade da divulgação de resultados do segundo trimestre.

Video institucional

Cursos EAD

Fotos dos Eventos

Sobre o Sinfac-SP

O SINFAC-SP está localizado na
Rua Libero Badaró, 425 conj. 183, Centro, São Paulo, SP.
Atendemos de segunda a sexta-feira, das 9 às 18 horas.