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Publicado em 02/04/2020

Empresas sacam R$ 70 bi em crédito rotativo (Valor Econômico)

Três grandes empresas brasileiras - Petrobras, Vale e Suzano - já recorreram nas últimas semanas a linhas externas de crédito rotativo (“credit revolving facility”) para garantir liquidez na crise. Somados, os recursos equivalem a quase R$ 70 bilhões para o caixa. Há mais empresas que podem recorrer a essas linhas, mas em menor volume - os bancos estimam um volume de cerca de US$ 20 bilhões (R$ 100 bilhões) disponível, considerado um mercado pequeno.

A Petrobras sacou US$ 8 bilhões, a Vale, US$ 5 bilhões e a Suzano, US$ 500 milhões. Nesse tipo de crédito, uma alternativa à captação de recursos em mercado de capitais ou mesmo de linha bancária tradicional, que tem custo mais alto em momentos de crise, a empresa paga uma taxa de manutenção pela existência da linha e pode sacar ao longo do prazo do contrato, com duração média de cinco anos.

Os saques podem ser parciais ou da totalidade do dinheiro, com notificação antecipada aos bancos de apenas 48 horas. Justamente pela rápida liberação quando acionado, esse crédito é sindicalizado, ou seja, feito por um conjunto de diversos bancos.

Se a companhia sacar, aí paga o custo do crédito. Além do acesso rápido, a ideia é negociar de antemão a taxa - que, num cenário de estresse, tende a ser mais alta no balcão do banco. No caso da Suzano, o custo é a taxa interbancária internacional Libor mais 1,30% ao ano. “Nas negociações recentes nos Estados Unidos, os spreads passaram de 170 pontos para grandes empresas com grau de investimento”, diz um diretor de banco americano. A taxa de manutenção costuma ser um terço da taxa do crédito e sem o indexador.

“O desembolso está em linha com as medidas preventivas que a companhia tem tomado para mitigar eventuais impactos decorrentes da pandemia da covid-19 e busca trazer ainda mais robustez à posição de liquidez da companhia”, disse a Suzano em nota. No caso da Petrobras e da Vale, o acesso ao rotativo faz parte de um conjunto de medidas que visa não só reforçar o caixa, mas dar suporte aos fornecedores de menor porte, que não têm amplo acesso ao mercado bancário ou de capitais e dependem do ciclo de capital de giro.

Se não usar todo o recurso tomado em determinado período, a empresa pode devolvê-lo aos bancos e voltar a pagar somente a taxa de manutenção sobre aquele montante. Nos Estados Unidos, quando o cenário de pandemia começou a piorar e travou completamente o mercado de capitais para novas emissões de dívida, houve uma corrida de grandes empresas para sacar seus rotativos - entre elas, a fabricante de aeronaves Boeing e a fabricante de bebidas Anheuser-Busch.

A estimativa apontada em relatório de analistas americanos é que as companhias do S&P 500 tenham, somadas, cerca de US$ 1 trilhão em linhas de crédito. Algumas dessas linhas individuais superam os US$ 10 bilhões.

“Tem uma dualidade no acesso a esse crédito, que é querer mostrar liquidez para os investidores e fornecedores e tranquilizá-los, mas despertar questionamento de acionistas sobre a real necessidade e robustez da companhia para uma crise, num país em que o mercado de capitais é pujante”, diz o diretor de crédito de um banco de atacado. Isso acontece principalmente quando já há uma preocupação com o impacto setorial, que é o caso da Boeing.

Mas gestoras de private equity como Carlyle e Blackstone incentivaram as empresas de seus portfólios a sacar suas linhas de crédito para evitar qualquer estresse financeiro nos próximos meses.

No mercado americano, já houve inclusive aberturas momentâneas para novas emissões desde então - a PepsiCo conseguiu emitir US$ 6,5 bilhões em bônus no dia 25 de março, já no auge do cenário de incerteza global, e a ExxonMobil, US$ 8,5 bilhões na mesma semana, com spread de 240 pontos-base sobre o título do Tesouro americano de 10 anos. Assim, empresas que poderiam acessar o rotativo desistiram e outras que já tinham sacado devolveram.

No Brasil, os bancos de atacado dizem que, ainda que novos saques ocorram, não haverá uma grande corrida a esse crédito porque menos de dez empresas brasileiras tem a chamada linha “revolving”. Entre elas estão Klabin, Votorantim e Gerdau. No caso da Klabin, o crédito foi contratado no início do ano passado, no montante de US$ 500 milhões, com vencimento em 2023 - o custo de manutenção é de 0,4% ao ano e, caso a linha seja sacada, o financiamento sai por Libor mais 1,35% ao ano.

“Poucas empresas no Brasil têm esse tipo de linha, que é voltado principalmente para companhias com grau de investimento e um instrumento normalmente em dólar e atrelado a balanços em que câmbio tenha alguma relevância”, explica o chefe de um banco atacado. Os bancos ressaltam que a Petrobras tem caixa suficiente para cumprir suas obrigações em 12 meses - mas acessar a linha foi uma sinalização para agências de rating terem tranquilidade com a liquidez da companhia.

“As empresas estão avaliando as alternativas de liquidez. Uma delas é a linha de crédito rotativo, para quem já tinha previamente negociado, outra é o BNDES, que tem preocupação com setores específicos nesse primeiro momento, como o segmento de pequenas e médias empresas”, diz Camila Goldberg, sócia da área de mercado de capitais do Barbosa Mussnich e Aragão Advogados.

Para as companhias que não tinham linhas garantidas a custo baixo e que mudaram suas projeções de fluxo de caixa, renegociar os créditos existentes é outra forma de manter liquidez, segundo Camila. As renegociações serão bancárias mas também com investidores. “Talvez a empresa não precise de dinheiro novo, mas precise reduzir o impacto de caixa alongando pagamento de juros, amortizações de debêntures e parcelas de empréstimos.”

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