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Publicado em 04/05/2017

Falta de cuidado na escolha de profissionais e de empresas parceiras facilita fraude corporativa (Estadão)

Embora especialistas garantam que as empresas brasileiras estejam aprimorando seus mecanismos de proteção contra fraudes, ainda existem dois elementos que evidenciam que o caminho a percorrer é longo: a maneira de uma companhia escolher seus profissionais para cargos de gestão e o modo como seleciona suas empresas parceiras.

Uma pesquisa realizada pela Protiviti, consultoria global especializada em Gestão de Riscos e Compliance, mostrou que em 100% dos casos de fraude analisados, havia o envolvimento de um profissional da empresa vítima – sendo em 57% deles funcionários de cargos executivos. O estudo ainda mostrou que, em 24% das fraudes investigadas, houve a participação de uma “empresa vírus”, que é uma companhia criada com o objetivo de cometer ações ilícitas.

Entre essas companhias, 15% não tinham registro ativo, 36% tinham registro em outros países e 64,3% tinham menos de cinco anos de existência. Segundo Antonio Carlos Hencsey, líder de Ética e Compliance da Protiviti, esses pontos, que deveriam servir de alerta para as empresas contratantes, só evidenciaram a falta de cautela que muitas delas ainda têm ao escolher suas parceiras.

O cuidado deveria começar com a checagem do histórico dessas companhias, para verificar com quais parceiras atuam e se já tiveram algum tipo de problema jurídico. Mas a falta de mão de obra e aparato tecnológico para identificar a procedência dessas parceiras e a pressão por resultados – que pode levar executivos a escolher os prestadores de serviços com preços mais atraentes – dificultam essa pesquisa, como explica Renato Santos, sócio da S2 Consultoria, empresa especializada em prevenir e tratar fraudes.

“A falta de ferramentas para pesquisar sobre a empresa vírus e a pressão por resultado, que diz que a companhia tem que contratar sempre o mais barato, dificultam a checagem. Mas uma terceira coisa que também é importante analisar é o possível envolvimento de algum funcionário, que muitas vezes age em conluio com essa empresa vírus”, afirma.

A pesquisa feita pela Protiviti corrobora a teoria do especialista: entre os casos analisados, todas as empresas vírus tinham como sócio, proprietário ou sócio oculto, um funcionário da companhia vítima, que, segundo os especialistas, pode ter usado mecanismos para facilitar a parceria entre as duas.

“O caminho de entrada das empresas vírus pode ser através de uma facilitação do próprio fraudador, que é um funcionário interno. Ele pode ter o poder de tomar decisões que permitam a contratação da companhia ou que dispense a necessidade de justificar o porquê dessa escolha”, explica Hencsey, da Protiviti.

O estudo mostrou que 57% das fraudes investigadas tiveram a participação de funcionários em cargos executivos, justamente aqueles com autonomia para a tomada de decisões. Marcel Sapir, sócio da Comatrix, consultoria de gestão interina, sugere que uma das medidas a serem tomadas para evitar fraudes é não concentrar o poder decisório na mão de um único profissional.

Mas os especialistas alertam que, mesmo que um funcionário não tenha autorização para decidir sozinho quem a empresa vai contratar, ele pode manipular os requisitos para fazer com que uma companhia seja escolhida, explica Santos. “Se eu quero fraudar e outra empresa faz parte do esquema, eu direciono as especificações do tipo de companhia que eu preciso que faça aquele serviço de modo que aquela fraudadora seja a única que se encaixe nos requisitos”, afirma.

Cuidados. Segundo os analistas consultados pelo Estado, uma das medidas mais eficientes para evitar fraudes é aprimorar o processo de seleção dos funcionários da empresa. Além do currículo e das experiências profissionais do candidato, devem ser levados em consideração a flexibilidade moral dos profissionais, sua percepção de ética e sua propensão a se envolver em riscos. Para isso, são realizados testes, questionários e avaliações psicológicas com perguntas e desafios de diferentes níveis.

“Identificamos muitas vezes que existem pessoas que nunca cometeram um ato antiético direto na sua vida profissional, mas a percepção de certo ou errado deles é distorcida. Muitos dizem, por exemplo, que não pagam propina por medo de serem presos. E isso não é o que esperamos do candidato, queremos que ele diga que nunca fez porque é algo errado”, afirma Hencsey, da Protiviti.

Renato Santos, da S2 Consultoria, explica que muitas vezes o fraudador não entende aquele ato como algo errado e, ao avaliar os riscos e benefícios que aquela ação podem gerar, acaba constatando que a fraude é um bom negócio.

“Primeiro ele racionaliza que aquilo não é tão errado ou pensa que todo mundo faz. Depois, ele analisa a questão da oportunidade e leva em consideração a necessidade”, explica Santos. Às vezes ele quer trocar o carro, mudar de casa ou pode estar em um situação difícil, como doença na família. E por último ele avalia sua disposição ao risco. Ele verá qual a chance de ser pego e o que pode acontecer. Geralmente, os fraudadores têm a percepção de ‘nunca deu errado, por que daria comigo?’ e praticam o ato.”

A falta de punição das empresas aos profissionais fraudadores é outra motivação para que atos ilícitos sejam cometidos. Daiane Nabuco, diretora sênior da FTI Consulting, empresa de consultoria especializada em compliance, explica que muitas vezes as companhias apenas demitem o funcionário sem maiores explicações, por medo de que seu nome seja atribuído à fraude e fique sujo no mercado.

Por isso, é fundamental que as empresas internalizem para seus funcionários que ética é importante para a longevidade da empresa, para o bem-estar dos funcionários e que aquele é um ambiente que não tolera fraudes.

“Você falar de ética em suas relações profissionais o tempo todo e ser um tema da sua organização, tratado não só em momentos específicos como treinamentos e fóruns é importante. Uma vez que as pessoas entram em um ambiente ético e isso faz parte da rotina delas, tanto na forma de relacionamento interpessoal como na maneira que se trata o cliente, o concorrente e a produção, os próprios funcionários vão proteger aquele ambiente e denunciar caso algo pareça errado”, explica Hencsey, da Protivi.

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