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Publicado em 10/09/2020

FIDC volta a liberar crédito para pequenas empresas (Valor Econômico)

Depois de segurar recursos na fase aguda da crise, os fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs) que financiam as pequenas e médias empresas estão voltando a liberar dinheiro para esse perfil de negócio. Dados da consultoria Uqbar indicam que para os fundos de “factoring”, que reúnem recebíveis de curto prazo, o susto da pandemia já passou.

“Os números mostram que os gestores estão mais confortáveis para voltar a comprar ativos”, afirma Carlos Augusto Lopes, sócio da Uqbar, destacando que o produto foi resiliente à crise. “Essa indústria sofreu um pouco, como todo mundo, mas está voltando a reconstituir as posições.”

Quando a pandemia chegou e os pequenos e médios comerciantes tiveram de fechar as portas, muitos temeram que esse segmento, tecnicamente chamado de FIDCs multicedente/multissacado, seria fortemente abalado. Isso não aconteceu porque a saída encontrada pelos administradores e gestores desses fundos foi segurar crédito novo para se concentrar na renegociação e acompanhamento daqueles já concedidos.

Os dados mais recentes desse segmento referem-se a julho. O volume mensal de aquisições de novos direitos creditórios nessas carteiras historicamente oscila na casa dos R$ 9 bilhões e chegou a cair para R$ 4,4 bilhões em seu pior momento, em maio. Ou seja, em tese, naquele mês, perto de R$ 5 bilhões em recursos que poderiam estar financiando pequenos negócios ficaram represados. Em julho, o montante de aquisições já foi maior, de R$ 6,9 bilhões.

O percentual de direitos creditórios no patrimônio líquido (PL) desses fundos, historicamente perto de 80%, chegou a cair para 56,7% em maio; em julho ficou em 61,9%. O caixa desses FIDCs, sempre limitado a um percentual ao redor de 15%, chegou a bater em 35,5% em maio e, conforme o dado mais recente, havia recuado a 33,2% do patrimônio em julho.

“Na pandemia, os gestores cada vez compraram menos direitos creditórios. Então, os recursos dos que venceram e foram pagos viraram caixa. Foi um movimento conservador. Agora já é possível dizer que o momento é de estabilidade e reversão dessa tendência”, diz Lopes, destacando que pelo segundo mês o caixa começou a cair e houve aumento na relação dos direitos creditórios sobre o PL.

As provisões para devedores duvidosos (PDD) começaram a subir significativamente em abril, quando bateram em 19,3% do PL desses fundos. Avançaram até 23,3% em junho e, em julho, começaram a recuar, encerrando o mês em 22,2%.

As recompras também perdem força. Normalmente, o percentual de recompra fica abaixo de 3% do patrimônio dessas carteiras - em maio, bateu 4% e, em julho, já havia recuado para 3,2%. Lopes explica que, dependendo do regulamento dos fundos, alguns cedentes têm a opção ou a obrigação de aceitar que o fundo venda de volta para o administrador um percentual de crédito de inadimplentes.

“Isso funciona como um reforço de crédito. O gestor, por exemplo, diz para o cedente ‘tenho aqui 2% do meu PL que está inadimplente e eu quero te vender de volta’. Se essa recompra começa a subir muito, como vimos nos primeiros meses da pandemia, preocupa porque mostra que a inadimplência está aumentando e o fundo está buscando repassá-la adiante”, diz.

O patrimônio desse segmento da indústria, no entanto, cai um pouco todo mês: saiu de R$ 21,1 bilhões em março para R$ 18,8 bilhões em julho (queda de 11%).

Daniel Pegorini, sócio da gestora Valora, afirma que, da análise de suas carteiras na crise, os números mostram também essa mesma tendência de recuperação no mês de agosto - as informações do mês passado são fechadas pelos gestores até meados deste mês.

Ele também destaca que a indústria sobreviveu à crise sem grandes problemas. “Teve algumas situações específicas de dificuldades em fundos pequenos, mas os mais representativos não chegaram nem perto de problemas”, afirma Pegorini. Ele identificou um aumento da subordinação - as cotas subordinadas sofrem as primeiras perdas nesses produtos - no início da crise até seu auge, em maio. Mas ainda assim o percentual de perda na subordinada não foi suficiente para ameaçar o retorno da sênior.

Apesar de alguns questionarem o fato de os FIDCs não fazerem uma marcação das cotas a mercado, Pegorini avalia que o furacão do coronavírus mostrou que essas carteiras fazem uma precificação adequada do crédito. O assunto veio à tona porque as debêntures e os fundos dedicados a elas sofreram muito no início da pandemia. No pico da crise, em abril, as debêntures de grandes empresas chegaram a sair a CDI mais 4,6%, com a falta de liquidez do mercado agravada pelos resgates em fundos com liquidez diária. Hoje, a situação já está mais calma, com os spreads ao redor de 2,4%. Enquanto isso, sem marcação, as cotas do FIDCs não se abalaram.

“O que ocorreu foi que as debêntures estavam mal precificadas, chegaram à crise no meio de um processo de ajuste nos preços e foram afetadas pelo risco de mercado. Elas oscilaram por conta da movimentação da Selic, que pela primeira vez foi reduzida numa crise no Brasil, e pelo ajuste dos fundos”, diz.

Já a precificação dos FIDCs, em média a CDI mais 3,5%, avalia, já estava mais adequada. “A falta de marcação até mesmo protegeu as carteiras de uma oscilação pontual de mercado que nada tinha a ver com a estrutura da indústria”, afirmou Pegorini. “O crédito estruturado não estava mal precificado, por isso, não oscilou tanto na febre da crise”, acrescenta.

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