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Publicado em 19/09/2019

Fintechs concedem R$ 1,2 bi e miram crédito sem garantia (Valor Invest)

As fintechs (empresa que presta serviços financeiros por meio de tecnologia) ainda representam uma parcela ínfima do mercado brasileiro de crédito. Mas é comendo pelas beiradas que elas tentam conquistar seu espaço. Os empréstimos sem garantia, que perderam a preferência dos grandes bancos desde a crise econômica, são a principal modalidade oferecida pelas novas empresas do setor financeiro. Essa é uma das constatações de estudo inédito sobre o setor realizado pela PwC em parceria com a Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD), obtido com exclusividade pelo Valor.

De acordo com o levantamento, os empréstimos sem garantias são oferecidos por 42% das fintechs de crédito que atendem pessoas físicas. O crédito direto ao consumidor, outra modalidade sem lastro, é o segundo produto mais comum, operado por 19% das empresas.

No caso das fintechs voltadas a empresas, as linhas mais comuns são crédito geral sem garantias (35%), capital de giro (30%) e crédito geral com garantias (30%).

Juntando os dois segmentos (pessoa física e jurídica), 32% dos participantes da pesquisa disseram aceitar bens para garantir as operações.

A oferta de crédito sem garantia é reflexo do maior diferencial competitivo das fintechs, a tecnologia. Com ferramentas de análise de dados e aprendizado de máquina, elas fazem a análise do risco de cada tomador — e não de grupos de tomadores, como era o modelo tradicional dos bancos (ainda usado, em muitos casos).

“Com mais tecnologia, você consegue dar mais crédito sem garantia sem que isso represente um risco elevado”, afirma Rafael Pereira, presidente da ABCD e da Rebel, fintech de empréstimo pessoal. “Isso permite mais inclusão no mercado.”

Os clientes que as fintechs mais atingem, segundo Pereira, já têm conta em alguma instituição, mas consomem poucos produtos e não têm acesso a crédito. O estudo aponta que 79% dos usuários dessas plataformas estão nas classes C, D e E. No segmento de pessoa jurídica, 72% vão de microempreendedores a empresas de até 49 funcionários.

A pesquisa, que ouviu executivos de 43 fintechs, representa um mapeamento inédito do setor, sobre o qual há poucas informações consolidadas. A ideia é que o estudo seja anual.

O impacto dessas companhias ainda é pequeno. As fintechs concederam R$ 1,2 bilhão em empréstimos no ano passado — uma fração dos R$ 3,7 trilhões originados no mercado todo, entre recursos livres e direcionados. O ritmo, no entanto, é acelerado. A alta em relação a 2017 foi de 48,6%. “O estudo mostra um crescimento rápido do setor”, afirma Luís Ruivo, sócio da PwC Brasil.

O grande apelo das fintechs são as taxas de juros. Metade delas cobrava, no ano passado, até 4,8% ao mês para pessoas físicas, enquanto a taxa para pessoas jurídicas era de até 4,5% ao mês em 90% das plataformas. Os juros médios cobrados no sistema financeiro estavam em 6,8% ao mês em junho de 2019, segundo o Banco Central.

Apesar disso, reduzir o preço para o tomador não é o maior objetivo das fintechs. Para 86% delas, o problema a ser solucionado é melhorar o tempo de aprovação e tornar o processo menos burocrático. Melhorar a experiência do cliente foi apontado também por 86%. Uso de tecnologia e melhores condições de pagamento vêm em seguida, com 79% e 67%, respectivamente. “No mundo todo, o desafio das fintechs é melhorar a experiência do usuário. Aqui, além disso, tem a particularidade do preço [do crédito] alto”, diz Ruivo.

A tecnologia é um diferencial importante, mas vale lembrar que as fintechs conseguem oferecer juros mais baixos também porque têm estruturas enxutas e um peso regulatório bem menor que o dos bancos. Essas empresas não têm agências físicas e atuam em nichos de mercado, em vez de oferecer um leque completo de serviços.

Submeter-se à regulação é opcional e, até agora, a escolha da minoria. Apenas 9% das companhias têm licença para atuar como sociedade de crédito direto (SCD) e 2% para ser uma sociedade de empréstimos entre pessoas (SEP) — as duas modalidades regulatórias criadas pelo BC em 2018. A maioria atua no modelo de correspondente bancário, usando a estrutura de uma instituição financeira para viabilizar as operações.

Mas esse cenário pode mudar em breve, já que 42% disseram que pretendem solicitar, no prazo de um ano, autorização para atuar como SCD e 9% têm planos de se tornar SEP. Segundo Pereira, da ABCD, o modelo de “open banking” que o BC planeja adotar é um incentivo para isso. O compartilhamento de informações só será obrigatório entre instituições reguladas.

O crescimento das fintechs também se nota no perfil financeiro das companhias. Quase metade delas (46%) têm no capital próprio sua principal fonte de recursos. Outras 40% contam com capital próprio e dívida. No entanto, entre 2016 e 2018 aumentou de 20% para 60% a fatia das empresas que fizeram captações no mercado — usando instrumentos como fundos de direitos creditórios.

Olhando para a frente, 74% das companhias disseram estar em busca de recursos. Dessas, 79% querem mais de R$ 10 milhões para financiar as operações de crédito. “O funding deve mudar com os juros mais baixos. Vai ter muito investimento em equity [cotas de capital], mas também em dívida”, afirma Pereira. “As fintechs estão começando a mostrar uma trajetória de crescimento.”

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