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Publicado em
20/04/2017
A oportunidade de ganhos em títulos prefixados passou após a última queda na taxa Selic para 12,25% ao ano, mas ainda é possível encontrar uma melhor rentabilidade em papéis de inflação que pagam juros reais (Tesouro IPCA+) e em fundos de crédito privado.
Ontem, por exemplo, o título público Tesouro Prefixado com vencimento em janeiro de 2020 prometia rentabilidade nominal bruta de 9,58% ao ano. “O prêmio [ganho] em prefixados secou, não seria uma boa opção [para o investidor]. Ainda pode ter prêmio nas NTN-Bs, nos indexados ao IPCA pois a inflação implícita daqui para frente está muito baixa”, aponta o vice-presidente da gestora SulAmérica Investimentos, Marcelo Mello.
De fato, o papel federal Tesouro IPCA+ (antiga Nota do Tesouro Nacional série -B ou NTN-B) com vencimento em agosto de 2024 promete juros reais de 5,12% ao ano mais a inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). “A inflação está comportada, mas nem sempre é assim, faz sentido comprar NTN-B”, diz.
Com base no cenário macroeconômico atual, o economista-chefe da SulAmérica, Newton Rosa, projeta a taxa básica (Selic) em 9% ao ano até o final de 2017, um pouco acima dos 8,50% esperados pela média do mercado na Pesquisa Focus coletada pelo Banco Central (BC). “Acreditamos que a Selic vai cair mais 1 ponto percentual na próxima reunião do Copom [para 10,25% ao ano], e depois mais 0,75 ponto percentual [para 9,5%] e depois somente 0,50 ponto [para 9%]”, prevê.
Ao mesmo tempo, lembra Mello, o mercado projeta a inflação abaixo da meta de 4,50% do Banco Central para 2017 e espera até uma redução dessa meta para 4,25% para 2018. “Há uma lua de mel de curto prazo do mercado com as reformas”, afirmou o executivo.
Risco político
O vice-presidente completou que, dadas as expectativas, o mercado financeiro trabalha com o cenário de aprovação da Reforma da Previdência Social (INSS e RGPS) no Congresso Nacional.
“O mercado considera que há de ter uma negociação [política] em torno da proposta original. Mesmo desidratada essa reforma aprovada será suficiente para o momento, mas não suficiente para o médio e longo prazo”, disse Mello.
Newton Rosa calcula que se a reforma da Previdência Social não for aprovada, daqui oito a 10 anos, devido ao teto dos gastos públicos, mais de 80% do orçamento primário do governo será tomado por despesas com aposentadorias e pensões. “A estabilização da dívida bruta do Tesouro seria empurrada mais para frente”, diz.
Mas considerada a aprovação da reforma, o economista calcula a estabilização da dívida em 90% do Produto Interno Bruto (PIB) entre 2019 e 2020. “O governo só produzirá superávit primário [para pagar os juros de sua dívida] se essa questão fiscal for resolvida”, destacou o economista-chefe.
Num cenário mais pessimista e desprecificada nas projeções do mercado financeiro – de não aprovação da Reforma da Previdência – Mello aponta que o dólar poderia subir de 20% a 30%, que o Ibovespa provavelmente recuaria 20%.
Nessa hipótese de não aprovação da reforma, Mello acredita que o BC cortaria o ciclo de queda da taxa básica de juros (Selic). “A ata do Copom considera esse risco”, mencionou o executivo sobre o teor do documento publicado ontem pelo Banco Central.
Na ata divulgada, o Copom relata que: os próximos passos no processo de aprovação das reformas fiscais envolvem apreciação de reformas fundamentais para a sustentabilidade das contas públicas, como é o caso da reforma da previdência. “Esse processo pode ser longo e envolve incertezas. Essas reformas e outros ajustes necessários na economia são relevantes para a sustentabilidade da desinflação e para a redução da taxa de juros estrutural”, mostra o documento.
Segundo os porta-vozes da SulAmérica, uma não aprovação da reforma levaria a “nossa sociedade” a discutir a estabilidade dos servidores públicos e fim de incentivos fiscais.
O vice-presidente considera que se a proposta for aprovada, por outro lado, poderá ser um “gatilho” para ganhos em renda variável, ou seja para uma valorização de ações negociadas na bolsa de valores. “A discussão sobre a configuração política de 2018 só vai retomar depois da votação da previdência”, aponta Mello.
Newton Rosa completou que a divulgação pública pelo juiz do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Edson Fachin, de políticos citados na operação Lava-Jato investigada pela Polícia Federal coloca mais incertezas sobre a eleição presidencial do próximo ano. “A lista de Fachin deixa o Congresso mais fragilizado”, comentou.