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Publicado em 30/04/2018

Governando com a real politik (Veja)

Pergunta recorrente: se Joaquim Barbosa (PSB), Marina Silva (Rede) ou mesmo Ciro Gomes (PDT) viessem a sentar na cadeira presidencial, teriam condições de governar? A dúvida leva em consideração a índole de cada um.

Joaquim é considerado um perfil destemperado, com a ética de juiz pairando sobre o balcão de negócios da política. Marina, com sua aparência de freira (imagem aqui posta de maneira positiva), transmite a impressão de que está mais afinada com as coisas divinas do que com o inferno da política. Ciro, com sua verve beligerante, demonstra ser um ente seletivo, rejeitando parlamentares e partidos envolvidos na Lava Jato.

Essas projeções levantam a hipótese de que teriam muitas dificuldades de romper o cordão vigente no Congresso, produzido pelo fisiologismo. A real politik ali praticada retrata a representação política, o “presidencialismo franciscano”, pelo qual o mandatário-mor só consegue governar caso ceda nacos da estrutura administrativa aos partidos e seus caciques. É dando que se recebe.

Sem esse troca-troca, governantes enfrentarão obstáculos, não sendo improvável nem a lâmina de um impeachment. Fernando Collor, sem articulação no Congresso, e Dilma Rousseff, com sua ojeriza às pressões, tiveram seus ciclos amputados. 

Em outras palavras, não se governa o Brasil sem a participação dos políticos, sinalizando que o governante deve desenvolver habilidades para formar maiorias congressuais. Sem isso, qualquer governo tende a fracassar, pois as políticas públicas embutidas em projetos de lei não passarão.

O leque de questões mostra a governabilidade condicionada à sustentação política. Se o governante se rebelar, o que poderá fazer? Submeter-se ao troco dos congressistas, gerando tensões entre os Poderes; renunciar ao cargo por indisposição de fazer política segundo nossa cultura; procurar apoio popular e pressionar o Congresso. Ou, com apoio militar, dar um golpe, fechar o Congresso e ressuscitar a ditadura. Ora, essas são opções inexequíveis ou incompatíveis com o estágio civilizatório do país.

Alternativa que soa como bom senso é a de adaptação do governante à música tocada pela política. O que exigirá flexibilidade para dançar samba ou valsa, a depender das circunstâncias. Sem humildade para entrar nesse jogo, Joaquim, Marina ou Ciro, caso cheguem lá, se transformarão em pavio de uma bomba a explodir em seu colo. Ou poderão usar a força do governante para estabelecer acertos e ajustes. Por exemplo: em vez de indicar caciques para cargos centrais da estrutura, acertariam com a indicação de perfis técnicos na tentativa de implantar a meritocracia.

Uma reforma política profunda levaria a um número razoável de partidos – 7, 8 ou 9. Assim teríamos os meios para uma administração compartilhada, criteriosa e justa. Os governos receberiam menor carga de pressão e em boas condições de governabilidade.  

Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP, consultor político e de comunicação.

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