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Publicado em 23/05/2019

Otimismo prevalece entre fintechs (Valor Econômico)

As empresas de tecnologia do setor financeira, as "fintechs", continuam otimistas com o mercado brasileiro, embora as projeções para o crescimento estejam cada vez menores, apontando para uma lenta recuperação. Na base da confiança dessas empresas, estão as condições de financiamento para seus negócios e o ambiente regulatório que vem sendo construído tanto pelo Banco Central (BC) quanto pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

"O Brasil vai receber a maior parte da alocação de recursos do nosso fundo para a América Latina", disse Felipe Fujiwara, vice-presidente do Innovation Fund, um megafundo voltado para a região do conglomerado japonês Softbank. Ele falou durante a terceira edição do Fintech Conference, que aconteceu ontem em São Paulo.

No total, o fundo terá US$ 5 bilhões para direcionar para os países da região nos próximos cinco anos. O executivo afirmou que entre 60% e 70% devem ser alocados no Brasil, 15% para o México e o restante para países como Colômbia e Chile. O investimento de US$ 1 bilhão no aplicativo colombiano Rappi, anunciado no mês passado, não entra na conta, uma vez que a maioria dos recursos veio de um fundo global do conglomerado.

"O ecossistema das fintechs tem funding, tem investidor olhando e apoio dos reguladores", afirmou Daniel Gomes, cofundador da Nexoos, uma fintech que conecta investidores pessoas físicas a empresas de menor porte que têm dificuldades em acessar empréstimos e financiamentos bancários.

Em relação à regulamentação, a CVM está acompanhando de perto o tema das fintechs, especialmente a questão do funding para essas empresas, uma vez que elas precisam captar recursos para disponibilizar crédito a seus clientes. A comissão planeja lançar um "sandbox" para as fintechs, espécie de regulação que permite uma emissão de licença temporária para tecnologias inovadoras. A ideia é que a startup possa testar a solução no mercado até obter uma permissão definitiva. "Planejamos lançar até o final do ano", disse Francisco José Bastos Santos, superintendente de Relações com o Mercado e Intermediários da CVM.

Já o BC divulgou recentemente as diretrizes do modelo que será usado no país para o "open banking", sistema que prevê a abertura, para concorrentes, de informações das contas dos clientes, desde que com sua autorização. Parte das regras será imposta pelo regulador, enquanto outra será definida pelo próprio mercado, num esforço de autorregulação.

Num primeiro momento, o open banking será obrigatório para os grandes bancos, a exemplo do que ocorreu na Inglaterra. Dados abertos, como endereço de agência e informações de tarifas bancárias, serão compartilhados primeiro. Depois, serão os dados cadastrais dos clientes e, numa terceira etapa, dados transacionais, como detalhes de contas e de pagamentos.

"Vamos sair com uma consulta pública sobre o open banking até o fim do próximo semestre. A regulação sairá no primeiro semestre de 2020. Faremos discussões com as associações do setor e vamos chamar todos do mercado para conversar", disse o chefe do Departamento de Regulação do Sistema Financeiro do Banco Central, João André Calvino. De acordo com ele, o open banking vai provocar uma transformação profunda no mercado, por isso ele deve ser implementado em fases.

Em relação aos princípios do open banking, Calvino afirmou que ele será implementado com o consentimento do cliente, a partir do compartilhamento de plataformas, de forma segura, ágil e eficiente. "Se antes o banco tinha como diferencial competitivo a posse desses dados, agora essa informação vai virar commodity", completou Gomes, da Nexoos.

Ainda no âmbito do BC, outra tecnologia que tem animado as fintechs são os pagamentos instantâneos, que permitirão transferências entre contas 24 horas por dia, sete dias por semana. Por ora, a ideia é que se use o QR Code nos estabelecimentos comerciais, dispensando as "maquininhas" de cartões. "O regulador está criando um 'iniciador de pagamentos', onde o cliente poderá plugar todas as suas contas", explica Alan Chusid, CEO da Spin Pay, fintech que desenvolveu uma plataforma de pagamentos.

De acordo com ele, a forma como o BC está construindo a estrutura é bastante positiva, pois permite a comunicação entre as diversas plataformas de pagamentos. "O que vai mudar o mercado é essa forma de liquidação. Para se ter uma ideia, na China, o Alipay e o WeChat não conversam entre si", explica Chusid.

Na China, os bancos já perderam US$ 50 bilhões em receitas, entre elas tarifas dos lojistas e de cartão de crédito, para as fintechs desde que essas empresas começaram a se disseminar no país, segundo o canadense Zennon Kapron, fundador da Kapronasia, um das principais consultorias asiáticas, com foco na indústria financeira. "O que acontece na China tem potencial de acontecer também no Brasil."

De acordo com o consultor, para os bancos chineses, que têm dezenas de trilhões de dólares em ativos, o volume pode não fazer tanta diferença. No entanto, as fintechs acabam por ter um amplo acesso às informações dos clientes, que são o "futuro das finanças", uma vez que elas podem prever as necessidades dos clientes e oferecer produtos e serviços diferenciados.

Na China, o Alipay, criado pelo Alibaba, do fundador Jack Ma, e o WeChat, lançado pela Tencent, conseguem processar mais transações por segundo do que empresas tradicionais do mercado de cartões, como as bandeiras. O Alipay, por exemplo, processa 120 mil transações por segundo.

O consultor citou uma pesquisa feita com jovens chineses que mostrou que 60% deles gostam dos bancos nos quais possuem contas, no entanto 85% acreditam que eles oferecem os mesmos produtos e serviços do que os demais. Esses jovens estariam dispostos a trocar sua privacidade por produtos diferentes. "Esse é o desafio que as instituições financeiras estão enfrentando em todo o mundo: elas oferecem o mesmo serviço. Já as fintechs estão entrando com uma proposta de valor diferente."

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