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Publicado em 03/04/2018

Peso do spread no juro final segue em alta (Valor Econômico)

O peso do spread bancário (a diferença entre custo de captação e do repasse via crédito) na taxa final de juros aos consumidores e empresas tem aumentado significativamente nos últimos anos, incluindo o período do atual governo, que registrou as menores taxas básicas de juros da história. É o que mostram dados elaborados pelo economista e especialista em crédito Gilberto Borça Júnior.

Com base em números do Banco Central (BC), o economista montou uma série com a relação entre o spread e as taxas finais do crédito, inclusive separando entre os segmentos de pessoas física e jurídica. Os dados mostram que a proporção entre spread e custo do crédito atingiu em fevereiro passado o nível mais alto da série iniciada em março de 2011, tanto para pessoas físicas como para jurídicas.

“Isso significa que a taxa de captação tem se reduzido de maneira mais intensa que a taxa ao tomador final. Spreads elevados atrapalham o mercado de crédito e atrasam a recuperação da economia”, disse Borça Júnior ao Valor. Para o economista, o dado mais marcante é o da pessoa física, que evidencia mais claramente que o spread bancário está “fora do lugar”.

Ao longo da atual gestão da política econômica, marcada por uma queda relevante nos custos de captação dos bancos mesmo antes do início do atual ciclo de queda da Selic, em outubro de 2016, essa razão cresceu com o tempo. Em maio de 2016, quando o atual governo assumiu, a proporção entre o spread geral e o custo do crédito era de 69,6%, atingiu 71,8% em outubro daquele ano, quando teve início a trajetória de corte de juros, e chegou a 75,8% em fevereiro deste ano.

No caso do crédito para pessoa física, essa razão passou de 76,3% em maio de 2016, chegou a 78,2% em outubro do mesmo ano e bateu 81,4% no dado mais recente. Para as empresas, no início do atual governo estava em 54,7%, passando para 56,4% em outubro e chegando agora a 62%.

Embora reconheça que o spread bancário elevado no Brasil reflita uma série de fatores, como custos administrativos, inadimplência, impostos indiretos, compulsórios, além, é claro, da margem de lucro dos bancos, Borça Júnior destaca que a economia brasileira vive uma situação de riscos menores, por conta do fim da recessão, da forte redução do endividamento das famílias e da melhora gradual do emprego e da renda. “O spread deveria refletir esses riscos menores. E o nível atual não é compatível”, disse, explicando que nesse quadro era de se esperar que o spread tivesse queda no mínimo igual ao do custo de captação.

A inadimplência, por exemplo, fechou em 5,1% em fevereiro no crédito com recursos livres para pessoa física, menor patamar da série histórica iniciada em 2011. E mesmo no período mais agudo da crise, a inadimplência das famílias se manteve comportada. Foram as empresas que puxaram a taxa de calotes no período recente.

Mesmo vendo alguma melhora nas concessões, Borça Júnior enxerga uma postura excessivamente conservadora dos bancos no crédito. “Isto atrapalha enormemente a recuperação da economia. O crédito é uma variável importante para o crescimento”, disse. “Os bancos poderiam ser um pouco menos cautelosos”, acrescentou, ressaltando que o modelo de negócio das instituições financeiras no Brasil claramente está ancorado em preço e não em volume de financiamentos.

A questão do spread bancário elevado tem sido tema de crescentes debates no Brasil e foi tema também de box no mais recente relatório de inflação do BC, divulgado hoje, que mostrou que o comportamento do crédito no atual ciclo de distensão monetária tem sido semelhante ao dos ciclos anteriores.

O presidente do BC, Ilan Goldfajn, disse recentemente que embora a análise do relatório sobre crédito mostre que o movimento atual dessas taxas é compatível com outros cinco episódios anteriores de ciclo de queda da Selic, isso não significa que o regulador não gostaria de ver uma queda mais rápida nas taxas. Ele disse que a autoridade trabalha para a queda das taxas de juros bancárias.

Nesse sentido, ele afirmou que o BC vê o compulsório exclusivamente como uma forma de afetar o custo do crédito. Segundo Ilan, o sistema tem vários custos, operacionais, de inadimplência, impostos, regulatórios e o próprio compulsório. “Estamos tentando atacar todos esses itens”, disse, complementando que o BC também trabalha para estimular a competição no sistema financeiro.

Para o presidente do BC, se conseguir manter a Selic e a inflação mais baixas haverá redução contínua do spread. Segundo Ilan, o spread já está caindo, “mas estamos fazendo esforço para que desta vez caia de forma mais rápida”. Na quarta passada, o BC reduziu e simplificou alíquotas do depósito compulsório, o que vai liberar mais de R$ 25 bilhões no fim de abril e começo de maio.

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