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Publicado em
01/12/2016
A aprovação da atuação das cooperativas de crédito com as prefeituras tende a sair em 2017. Com crescimento de dois dígitos no setor e redução nos calotes, projeto será benéfico para os dois lados, mas ainda pode atrasar por pressão contrária dos bancos.
O Projeto de Lei Complementar (PLC) 100 de 2011, que já está em pauta no Plenário, possibilitará a atuação das cooperativas de crédito com entidades públicas.
Segundo Manfred Dasenbrock, presidente da Central Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi), o segmento está “esperançoso” com a aprovação até o final do segundo semestre, principalmente porque “seria uma conquista para ambos os lados”.
“Temos os produtos, a liquidez e, em muitos municípios, somos a única instituição financeira. Neste cenário, a ‘maior empresa’ é a prefeitura e o repasse de recursos entre cooperativa e o setor público alavancaria as duas entidades”, diz o executivo.
Para Hugo Rodrigues Pereira, gerente da área estratégica do Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob), apesar do otimismo, a pressão dos bancos e a incerteza política ainda podem trazer dificuldades.
“Os bancos se posicionarão no Congresso e o que nos resta é ver o que pesa mais: o lado social ou o poder econômico dessas instituições”, questiona o executivo.
Por outro lado, com a última decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de, em caso de desoneração, diminuir o repasse por parte da União aos municípios, mantendo o percentual de direito às prefeituras, muitos das cidades, sem a capacidade financeira de sustentar suas máquinas administrativas de maneira independente, também tendem a pesar os prós da PLC 100.
“As prefeituras estão em estado crítico, e isso deve agilizar a aprovação do projeto. O momento de incerteza política, no entanto, nos torna mais conservadores”, comenta Pereira.
Ele completa que, a depender do governo em 2017, o posicionamento das cooperativas ainda pode mudar.
“Os desdobramentos da [Operação] Lava Jato não dá certeza sobre quem estará governando no ano que vem, e tudo ainda depende muito de como será a manutenção da linha de Estado. Se houver uma troca de governo, tudo mudará, e teremos que rever toda a nossa posição de atuação para a PLC 100”, ressalta o gerente do Sicoob, Hugo Pereira.
‘Omissão Bancária’
Já em relação à estimativa de crescimento do sistema cooperativo em 2016, todas as três maiores cooperativas preveem crescimento de dois dígitos.
A expectativa do mercado para as cooperativas de crédito é de expansão entre 10% e 12% em 2016. Em anos anteriores à crise econômica, essa média de avanço chegava à casa dos 20% anuais.
“Em um momento de recessão, os grandes bancos priorizam clientes com maior liquidez e acabam tirando o crédito de quem realmente precisa. E é nessa omissão de atuação bancária que as cooperativas têm posição de oportunidade. Isso aconteceu muito em 2016”, entende Pereira.
Os executivos ouvidos pelo DCI ainda destacam que, nesse cenário, a oportunidade também aparece para as cooperativas por conta da taxa de juros, mais barata e atrativa do que no crédito bancário.
De acordo com Luciano Fantin, CEO da Unicred, tanto as taxas de juros ativas (oferecidas para empréstimos), como as passivas (em relação a produtos de investimento e poupança) aparecem como estímulo aos associados.
“O cooperativismo enxerga o mesmo risco de crédito que qualquer outra instituição, mas o lucro volta para o cooperado, seja como participação ou sobra da cooperativa. Isso nos permite oferecer taxas menores e ainda continuar emprestando em cenários adversos”, destaca Fantin.
O presidente do Sicredi, Manfred Dasenbrock ressalta que frente à greve dos bancos do terceiro trimestre, que paralisou mais de 50% das agências bancárias no País, as cooperativas “permanecem com uma sequela positiva”.
“Falo em sequela porque, no curto prazo, a estrutura da cooperativa não está montada para atender o público que demanda produtos bancários. Mas o movimento é crescente e, no longo prazo, a migração de um grande banco para a cooperativa acaba acontecendo”, explicou o presidente.
Já em relação à inadimplência, a expectativa do mercado é que o sistema cooperativo feche em torno de 2% a 3,5%, também acima da média do mercado em anos anteriores (entre 0,5% e 1,5%).
“Em meados deste ano, a inadimplência começou a ter leves quedas. Neste quadro, a provável tendência é de contínuo arrefecimento, para que possamos alcançar patamares anteriores no final de 2017 e começo de 2018”, acrescenta Fantin, da Unicred.
Águas agitadas
Apesar do “quadro de otimismo reinar” no sistema cooperativo, os ambientes econômico e político do País permeiam um cenário difícil para o ano que vem.
“Estamos bem posicionados e o objetivo é uma atuação pró-ativa, com investimentos e programas de renegociação para os cooperados com dívidas não pagas. Ainda será um ambiente de águas agitadas, mas persistiremos com braços fortes pra continuar remando”, conclui Dasenbrock.
Isabela Bolzani