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Publicado em 30/11/2017

Queda de custo não derruba spreads (Valor Econômico)

Os spreads bancários não estão acompanhando a queda dos custos de captação dos bancos, quebrando uma relação histórica em que as condições financeiras menos apertadas levavam as instituições a cortar as margens brutas nas operações de crédito. Desde a máxima em dezembro de 2015, o custo de captação dos bancos no crédito livre apresenta firme trajetória de baixa, saindo de 15,23% ao ano para fechar outubro de 2017 em 8,15% ao ano, menor patamar desde o começo de 2013.

Mas os bancos ainda não cortaram os spreads como costumava ocorrer nos ciclos anteriores de distensão monetária. De fato, o spread do crédito livre, que era de 31,96 pontos percentuais em dezembro de 2015, fechou outubro deste ano a 35,43 pontos, alta de 3,47 pontos. Nesse intervalo, o spread total do sistema chegou a bater em 42,71 pontos, mesmo com o custo de captação já em baixa.

Outra forma de avaliar esse repasse de custos e riscos menores aos clientes é observar a evolução dos spreads desde que o BC começou a cortar a Selic. Por esse critério, os bancos repassaram aos spreads a queda dos custos de captação no crédito livre, que caíram 4,22 pontos percentuais entre setembro de 2016 e outubro de 2017, de 12,37% para 8,15% ao ano. E os spreads médios do crédito baixaram 4,75 pontos percentuais, de 40,18% ao ano para 35,43% ao ano.

O problema dessa segunda metodologia é que os mercados antecipam, via juro futuro, os cortes sinalizados pelo BC, derrubando os custos de captação dos bancos.

Alguns estudos feitos pelo BC mostram que, em geral, os spreads bancários caem em reação a uma expansão monetária.

Em junho de 2006 foi publicado um box no Relatório de Inflação explorando essa relação. Naquela época, o BC investigou porque o spread bancário não estava reagindo da forma esperada, nove meses depois de iniciado um processo de corte de juros. Mudanças na composição do crédito, com expansão mais forte em linhas mais caras, e receio de alta na inadimplência explicavam a demora no spread cair.

Os custos de captação dos bancos influenciam os juros ao tomador por dois caminhos. Um deles é direto: os cortes dos juros básicos reduzem os custos de captação dos bancos, que tendem a repassar essa queda para os clientes. Esse repasse está ocorrendo, ainda que de forma parcial. O juro com recursos livres cai de 50% no começo de 2016 para 43,6% no mês passado.

O outro canal é indireto. Os custos de captação caem porque os depositantes exigem prêmios de risco menores ou porque se antecipam ou reagem a cortes na Selic. Nesse ambiente, os bancos ficam menos receosos com perdas com inadimplência, por isso cortam os spreads.

Para o professor de finanças do Ibmec Rio Alexandre Espírito Santo, a concentração bancária, a inadimplência e fatores associados como a baixa recuperação de crédito e o custo tributário explicam a inelasticidade do spread. Há também outros vetores pouco comentados, como depósitos compulsórios e a fatia do crédito direcionado no total, que também impedem redução maior do spread.

Os spreads sobem e caem devido a fatores cíclicos, como a queda dos juros básicos, e também devido a fatores estruturais, ligados a reformas que reduzem os custos de inadimplência, aumentam a concorrência e melhoram a eficiência do sistema bancário. No ciclo de baixa de juros entre 2006 e 2007, os spreads caíram refletindo reformas microeconômicas, como a adoção da alienação fiduciária nos financiamentos de veículos.

Para o professor, que também é economista da Órama, as elevadas alíquotas do compulsório batem no spread porque reduzem a quantidade de dinheiro disponível para a intermediação bancária. É uma situação semelhante a do crédito direcionado, em que os bancos compensavam as margens mais baixas com a TJLP com juros mais altos no crédito livre.

Outro fator que pode ser apontando como barreira à uma redução mais consistente do spread é o elevado nível de provisionamento para perdas do sistema, que reduz a margem de lucro, impedindo, também, redução maior dos juros. Olhando as provisões entre janeiro de 2016 e outubro deste ano, os bancos públicos elevaram de 4,3% da carteira para 5,5%, e os privados nacionais de 8,5% para 8,9%, com picos em 9,4% no intervalo. Para o professor, esse aumento de provisões tem relação com o recente período recessivo, que deixou o sistema mais criterioso nas concessões.

Olhando para frente, Espírito Santo diz que a tendência é de queda mais acentuada dos spreads, refletindo tanto a normalização da política monetária, que abriria espaço para redução dos compulsórios, como os primeiros impactos da adoção da TLP. Para ele, esse processo só não acontece de forma mais acelerada em função da grande incerteza que a eleição de 2018 representa não só para o setor financeiro, mas para a economia como um todo. Mudanças relevantes aconteceram no ambiente de crédito, mas o mercado não assume postura ofensiva devido à eleição.

Ainda de acordo com o professor, outro vetor que vai ajudar na redução dos spreads são as fintechs, que vão injetar maior concorrência no sistema. O BC já trabalha na regulação de dois modelos para o mercado de crédito. Fontes do setor bancário avaliam que o spread está sim em baixa e que os pontos relevantes para a comparação devem ser agosto de 2016 com o momento atual, pois essa janela captaria a ancoragem de expectativas de inflação e o início do atual ciclo de corte de juros. Além disso, seria mais relevante comparar as taxas de aplicação, que caíram de 53,1% para 43,6%, com a taxas de captação, que saíram de 12,4% para 8,2% no período, tendo em vista que o spread não responde somente ao custo de captação, mas também à fatores estruturais como inadimplência de operações passadas, e custos tributários diferidos, já que perdas no crédito só são compensadas dois anos após ocorridas.

De acordo com o executivo de um grande banco, o BC adota uma metodologia que é diferente da aplicada pelas instituições no cálculo dos spreads. Porém, na divulgação dos resultados do terceiro trimestre, os próprios bancos apontaram que seus spreads continuam estáveis na maior parte das linhas. Isso se deve basicamente a três fatores.

Um deles é que, nas operações de crédito com taxas prefixadas, a praxe é considerar o spread do momento da contratação das operações. Outro fator é que os bancos têm procurado ajustar o mix das carteiras de crédito, privilegiando linhas com margem melhor. Um terceiro fator, de acordo com os bancos, é que a inadimplência é um componente com grande peso nos spreads e os calotes vêm diminuindo em ritmo menor que o esperado.

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