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Publicado em 30/08/2018

Recuperação de crédito é baixa e depende de atividade econômica (DCI)

A redução “tímida e contínua” dos juros tem limite e só acontece pelo atraso bancário no repasse da taxa básica (Selic). Apesar da percepção de melhora sobre o mercado de crédito, a recuperação só virá com a concretização das expectativas macroeconômicas.

Para especialistas, mesmo que o ambiente doméstico já sinalize uma tendência de recuperação, a melhora no crédito ainda chega atrasada e de forma “muito sutil”.

“A sensação é de que temos um ambiente mais favorável, mas os recursos disponíveis ainda estão caros para a situação de inflação controlada e Selic reduzida que o País se encontra”, diz o professor da Saint Paul Escola de Negócios Mauricio Godoi.

Ele pondera que, nesse sentido, a redução dos juros na ponta ainda é “bastante atrasada” quando comparada à queda da Selic, que começou ao final de 2016.

“Isso acontece porque o risco ainda é alto, uma vez que a recuperação continua sendo apenas uma expectativa e não uma realidade”, complementa o especialista.

Os economistas, por exemplo, já reduzem as perspectivas de crescimento da atividade econômica (de 1,5% para 1,47%, segundo o Focus, do Banco Central) e sobem as projeções para a taxa de câmbio (de R$ 3,70 para R$ 3,75) e a inflação (de 4,11% para 4,17%) até o final do ano.

“O mercado de crédito tem evoluído abaixo do PIB [Produto Interno Bruto], principalmente porque depende de clareza e confiança, o que não temos ainda”, avalia o economista do Banco MUFG Mauricio Nakahodo.

Os últimos dados do Banco Central apontam que as concessões totais do sistema financeiro em julho avançaram 15,2% em relação a igual mês de 2017, de R$ 259,8 bilhões para R$ 299,3 bilhões.

Na mesma linha, os juros totais reduziram 4,4 pontos percentuais na mesma comparação de 28,9% para 24,5%.

No quesito de diminuição das taxas cobradas na ponta pelo sistema financeiro, no entanto, o professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie Marcos Andrade pontua que já não há espaço para reduções mais fortes.

“Apesar da projeção para o IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo] deste ano estar abaixo do centro da meta [4,5%], o aumento que vimos no dólar e a tendência de gradual aumento no consumo podem pressionar a inflação para cima. Isso acontecendo, a possibilidade de um aumento na Selic é maior”, analisa.

No último relatório, o Comitê de Políticas Monetárias (Copom) do BC, por exemplo, se absteve de traçar um direcionamento para a taxa básica dos próximos meses, mas considerou o cenário internacional como um risco persistente.

Para Andrade, essa falta de sinalização pode indicar a possibilidade de novos reajustes para cima e isso “preocupa” quanto as taxas ainda abusivas praticadas pelos bancos.

“Nesse cenário, com o desemprego alto e a renda da família bastante comprometida, não há tomada de recursos nem no âmbito de pessoas físicas e nem por parte dos empresários, que deixam de realizar grandes investimentos com os altos níveis dos juros no médio e longo prazo”, afirma.

Na mesma linha, outro ponto também trazido pelo relatório de crédito da autoridade monetária foi o Índice de Custo de Crédito (ICC) que, mesmo tendo reduzido 1,3 ponto percentual (p.p.) em julho contra igual mês de 2017, para 20,9%, ainda não demonstra quedas expressivas no spread (diferença entre a taxa de captação e de empréstimos).

O spread do ICC, na mesma base de comparação, diminuiu apenas 0,5 p.p., para 14 p.p.

De acordo com Godoi, da Saint Paul, isso não apenas indica que grande parte da queda dos juros observada em julho veio principalmente das linhas rotativas, como também mostra que uma “falsa sensação” de recursos mais baratos.

“Mesmo com o repasse de ajustes nas linhas mais caras, o spread se mantém. Isso significa que outras linhas de crédito fazem suporte aos altos custos de forma mais pulverizada”, esclarece o professor.

Para ele, a única maneira de os recursos ficarem mais baratos na ponta consumidora seria se as expectativas de melhora na economia se consolidassem como reais.

“De qualquer forma, só teremos a confirmação de que o mercado de crédito se recupera depois das eleições e conforme o ambiente internacional se normalize. Só então enxergaremos se teremos reduções mais efetivas ou não”, acrescenta Mauricio Godoi.

Modalidades caras

Na ponta das linhas rotativas – que, inclusive, têm sido um dos pontos fortes de atuação do Banco Central no último ano –, os especialistas avaliam ainda ser “cedo” para resultados significativos no cheque especial com as novas regras, que foram implementadas no início do mês passado.

“Ainda existe bastante gente entrando nessas linhas emergenciais, o que reflete bastante a situação financeira do consumidor em um ambiente de muita incerteza e economia relativamente fraca”, comenta Nakahodo, do MUFG.

“Mas assim como a inadimplência, isso também vai melhorar conforme a economia tenha um direcionamento mais claro, possivelmente no ano que vem”, conclui.

De acordo com os dados do BC, o índice de calotes totais apontou queda de 0,7 p.p. em julho contra igual mês do ano passado, passando de 3,7% para os atuais 3%.

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