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Publicado em
12/02/2019
A intenção é verificar se houve fraude contábil nos relatórios, por meio de suposta manipulação nos números, dizem as duas fontes ouvidas. A empresa informou na nota que esse processo esteve em andamento nos últimos meses, mas o Valor apurou que a investigação ainda está em curso no país. Procuradas, EY e KPMG não comentaram o assunto.
Até o momento, foram examinados os balanços de 2016 e 2017 e a expectativa é finalizar essa análise até o fim do primeiro trimestre. São 1.172 lojas no Brasil, com vendas brutas de € 1,6 bilhão no ano passado. Entre 2014 e 2016, os relatórios anuais apontavam crescimento de 11% a 18% no faturamento em reais - muito acima do desempenho do mercado.
No comunicado global, a empresa afirmou que "continua a exercer a devida diligência, responsabilidade e o mais alto nível de transparência desde o momento em que estava ciente dos ajustes contábeis". Além de Espanha e Brasil, a rede tem lojas na Argentina e em Portugal.
Após o início das investigações, executivos deixaram seus cargos na subsidiária brasileira. Questionada se as mudanças têm relação com o trabalho da auditoria, a rede afirmou, em nota enviada ontem ao Valor, que está em "um grande processo de transformação no Brasil e no mundo" e que 2018 "foi um ano desafiador, provavelmente o período mais crítico desde que a empresa foi fundada, há mais de 40 anos". Agora, complementa, deu início a um novo ciclo, com a contratação de "talentos experientes em varejo, que chegaram com o principal objetivo de restabelecer a organização."
No fim do ano passado, o presidente do Dia no país, Freddy Wu, há cerca de sete anos na função, foi transferido para a filial na Argentina - que faturou € 1,8 bilhão em 2018. O novo CEO é Marin Dokozic, ex-presidente da rede alemã Lidl. Houve ainda duas alterações no Brasil, nas diretorias comercial e financeira. O Valor apurou que o novo CFO da rede aqui é Jose Gonzalez Vara (ex-Dia China).
O Dia Brasil informou que a reestruturação em curso inclui "a definição de um plano de negócios 2018-2023 e a renovação da gestão". Esse movimento "envolve também a contratação de uma auditoria externa periodicamente, procedimento comum e recorrente em grandes organizações para evolução contínua de processos". Na nota de sexta-feira, a matriz do grupo não mencionou que a contratação da nova auditoria era um procedimento comum.
Segundo uma pessoa a par das investigações, a auditoria tem reunido informações sobre a transferência de estoques às franquias, e verificado se esses estoques efetivamente se transformaram em receita com venda. Ainda foram examinados dados sobre verbas e bonificações concedidas pelas indústrias à rede, e a forma como aparecem nos balanços. Nem sempre as bonificações são pagas, e se isso não ocorre, é preciso provisionar o valor.
No varejo, questões relacionadas à forma como as redes contabilizam ganhos e perdas são objeto de investigação há anos. Em 2017, a britânica Tesco anunciou o início de uma auditoria contábil. O Carrefour Brasil fez o mesmo em 2010 e o GPA informou em 2016 ajustes contábeis na Cnova, seu braço de comércio eletrônico na época.
No Brasil, o negócio do Dia tem vendas em queda há quatro trimestres consecutivos - encerrou 2018 com retração de 1,8% (em moeda brasileira). A empresa fechou 100 lojas franqueadas no ano passado e abriu cerca de 150.
Fundado em 1979, o Dia pertencia à rede francesa Carrefour, mas em 2011 as operações foram separadas, com a abertura de capital do Dia na bolsa espanhola. Depois, em 2014, o Carrefour comprou a operação do Dia na França por € 800 milhões.
A decisão de examinar os relatórios foi anunciada na mesma semana em que o fundo LetterOne, do milionário russo Mikhail Fridman, dono de 29% das ações da empresa no mundo, anunciou a intenção de assumir o controle do Dia. O LetterOne fará uma oferta pública de aquisição de ações da companhia por quase € 300 milhões. Ainda se propõe a fazer um aporte de € 500 milhões no negócio, que opera hoje alavancado, e tirar a rede da bolsa de Madri.