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Publicado em 02/06/2020

Taxa menor em fundo de renda fixa deixa a desejar (Valor Invest)

Desde 21 de fevereiro, pouco mais de 50 fundos de renda fixa com mais de 100 cotistas e patrimônio superior a R$ 184 bilhões no conjunto tiveram as suas taxas de administração reduzidas. Com cortes da Selic em março e maio, para 3% ao ano — e estimativas de nova baixa em junho — gestoras de recursos, principalmente às ligadas aos grandes bancos, recalibraram o custo das suas carteiras.

Levantamento feito pela Economática para o Valor, mostra, porém, que ainda há um universo de mais de 80 fundos de renda fixa com taxas a partir de 2% ao ano, reunindo mais de R$ 200 bilhões. Só os cinco maiores bancos — Banco do Brasil, Caixa, Itaú, Bradesco e Santander — respondiam por R$ 197,9 bilhões desse bolo.

Isso mostra que, apesar do passo dado para uma política de tarifação mais adequada a juros menores, há muito por fazer. Neste rol estão também os fundos de aplicação e resgate automáticos, os chamados “raspa conta”, que os executivos das instituições costumam classificar como produto de conveniência ligado à conta corrente, e não como investimento.

O que alguns bancos vinham fazendo era abrir novas carteiras com taxas menores no varejo, deixando o saldo remanescente nos portfólios antigos. Se o investidor não se mexesse, continuaria pagando o custo mais alto.

O Santander acaba de reformular a sua grade, enxugando a oferta de portfólios mais tradicionais. Desceu, por exemplo, para todos as faixas de renda uma carteira de renda fixa com taxa de administração de 0,3% ao ano que era exclusiva do private banking.

O tíquete de entrada passou a ser de R$ 100. “Vamos ter um pedaço em estratégias mais conservadoras, simples e baratas, com espaço para cobrança de uma margem menor e, na outra ponta, estarão os fundos mais sofisticados e de maior valor agregado”, diz Gilberto Abreu, executivo-chefe da asset do banco.

Nos fundos DI, de dez carteiras, o banco passará a ter só três. No conjunto de renda fixa, de nove restarão cinco, com aplicação a partir de R$ 100. Abreu diz que a ideia é também revisar as taxas dos fundos antigos. Mesmo nos multimercados, que costumam cobrar 2% de taxa de administração com 20% de performance, o executivo afirma ter a intenção de mexer. “Num ambiente em que basicamente investem no ‘kit Brasil’, em juros, moeda e bolsa, o preço penaliza muito a rentabilidade.”

Já os fundos “raspa conta” têm uma política diferente porque a intensidade e processos são outros, diz Abreu. “É como um serviço, em que você vende além da gestão do fundo, a do caixa também.” O executivo acrescenta que, de toda forma, o banco cortou a taxa de alguns deles para 2% e reduzirá a de outros, já fora da oferta, nos próximos dias. Pelos dados da Economática, o Santander tem 13 fundos com taxas entre 2% e 2,7% e patrimônio de R$ 2,7 bilhões.

O maior volume do mercado está em carteiras da BB DTVM, com R$ 162,7 bilhões. Boa parte disso refere-se a um serviço de conta corrente, que não se confunde com investimentos, diz Aroldo Medeiros, diretor comercial e de produtos da gestora do Banco do Brasil.

“É mais para remunerar o saldo que sobrou na conta para o curtíssimo prazo. Nossos concorrentes têm CDBs automáticos”, diz. “E o CDB automático paga 5%, 10% do CDI pela facilidade de aplicar e resgatar.”

O grande esforço na rede, diz, é fazer com que o dinheiro não rode mais do que 60 dias nessas aplicações automáticas, porque “senão o cliente está no produto errado”, diz Medeiros. Para incrementar a oferta de investimentos propriamente dito, o BB montou na forma de fundos as carteiras sugeridas para diversos perfis, com taxa de administração de 0,3%.

Depois de ter baixado a taxa de administração de seus fundos de renda fixa no varejo a 0,30% ao ano, o Itaú Unibanco estuda agora fazer o ajuste também no estoque dos portfólios que já estavam fechados, diz Claudio Sanches, diretor de produtos de investimento e previdência do banco. Pelos dados da Economática, só as carteiras com taxa a partir de 2% reuniam R$ 6 bilhões.

Dentre os fundos hoje efetivamente distribuídos na rede, o executivo diz não haver mais nenhum cobrando mais de 0,30%, independentemente do segmento — private banking, alta renda ou varejo. Não se trata aqui de segurar o cliente, diz, é mais uma oferta de conveniência. “Do ponto de vista do relacionamento tem um impacto porque o cliente percebe que você está fazendo a ação em benefício dele. Do ponto de vista de resultado, ele para de mandar dinheiro para fora [do banco]? Não, porque esse é um dinheiro que ele roda muito, é mais uma ação complementar.”

O executivo acha que a tendência é o mercado como um todo aprofundar as reduções de taxas, dependendo do tamanho do estoque que ainda está nos produtos com taxas altas. Ele lembra que se o custo for muito elevado a poupança, que paga 70% do CDI, pode ficar mais interessante porque não tem a cobrança de IR. O problema é que se o investidor sacar fora da data de aniversário perde o rendimento do mês inteiro.

De dezembro até março, a taxa média de administração dos fundos de renda fixa no varejo, que aceitam aplicações de até R$ 1 mil, caiu de 1,66% para 1,37%, segundo dados da Anbima.

Segundo Einar Rivero, gerente de relacionamento institucional da Economática, as reduções de taxas feitas, em geral, têm sido insuficientes para que os fundos cumpram o papel de preservação de capital. Vale lembrar que essas carteiras acolhem normalmente os recursos de liquidez ou daquela reserva de emergência.

Quando se olha a performance em 12 meses dos fundos que reduziram suas taxas de fevereiro para cá apenas sete carteiras têm um desempenho próximo do CDI. Já a rentabilidade bruta é muito mais representativa, destaca Rivero. “Ao comparar o quanto a gestão realmente produziu e o que o investidor recebeu, o que se percebe é que o gestor ganhou mais dinheiro do que o próprio cotista”, diz. “Alguns fundos têm diferenças gritantes. E é essa taxa bruta a usada para calcular o pagamento de bônus.”

No seu filtro, Rivero considerou a taxa de administração que aparece nos regulamentos. E a partir daí simulou que retorno o investidor teria se as carteiras tivessem outras taxas.

O Hiperfundo do Bradesco, por exemplo, teve um retorno bruto de 4,7% em 12 meses, mas para o investidor sobrou 1,76%. Se já tivesse valendo a taxa atual, de 1,5%, que começou a valer em 13 de maio, a rentabilidade seria de 3,2%. Se fosse 0,5%, seria de 4,25%. No conjunto, o banco tem R$ 1,092 bilhão em fundos que cobram 2% ou mais, segundo a Economática.

O Bradesco não tinha um porta-voz disponível, mas em nota respondeu que tem ajustado, ao longo do tempo, as taxas de administração de seus fundos para se adequar ao mercado. “A Bram oferece uma plataforma completa de investimentos, composta por produtos variados em tipos de taxa, rentabilidade e graus de risco”, escreveu, acrescentando que monitora constantemente os custos.

Recentemente, a asset reduziu a aplicação inicial de 50 fundos para pessoas físicas e jurídicas, entre renda fixa, ações, multimercado e crédito privado em todas as faixas de renda. Nos segmentos varejo e alta renda, a aplicação de entrada passou para R$ 1 mil reais, ante R$ 5 mil e R$ 10 mil, em 25 fundos de investimento. No corporate e no private, o valor inicial dos fundos caiu de R$ 10 mil para R$ 1 mil.

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