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O QUE ESPERAR DA ECONOMIA
Especialista alerta para riscos internos e externos que podem
prejudicar o crescimento brasileiro nos próximos anos
rupturas. Nada que possa jogar o mun-
do em uma recessão. Mas não podemos
ignorar esses riscos”, pondera Nogueira.
Há ainda duas situações que influenciarão
negativamente a economia brasileira: a alta
dos juros nos EUA – que deve tirar dólares de
países emergentes e desvalorizar ainda mais
o câmbio por aqui – e os gargalos nas cadeias
de produção. “Nos dois casos, a questão não
é se isso vai acontecer, mas quando e em
qual intensidade”, explica o economista.
Internamente, há diversos pontos de aten-
É praticamente unânime entre os analistas para a inflação, que continuará sendo o gran- ção – inflação, desemprego, crise hídrica,
que 2022 será um ano de inflação alta, juros de tema global nos próximos anos. “Além insegurança jurídica e o risco fiscal – todos
em elevação e atividade econômica fraca. de o mundo todo ter injetado muito dinheiro eles com potencial para assustar investi-
Situação que tende a se agravar com a na economia, a pandemia desestruturou as dores. Nogueira, porém, chama atenção
disputa eleitoral. Ainda assim, o economista cadeias globais de produção”, completa. para um deles em especial: a desigualda-
e jornalista Luis Artur Nogueira acredita que Para Nogueira, há quatro cenários possíveis de. “Durante a pandemia, a desigualdade
é possível que o ano que vem seja promissor para a atividade econômica brasileira no ano educacional aumentou o abismo entre
sob alguns aspectos, sobretudo, no mercado que vem. O primeiro é bastante otimista e ensino público e privado. Teremos um
de crédito. “Vocês têm um papel fundamen- estima um crescimento de 2,1%. Está restrito, gargalo enorme de mão de obra daqui
tal no fomento e na questão do crescimento porém, às projeções oficiais do governo. O dez anos. Portanto, tão importante quanto
econômico. O Brasil tem muitos obstáculos, o segundo, que o economista acredita ser o crescer é reduzir a desigualdade”, alertou.
crédito não pode ser mais um deles. Mesmo mais provável, prevê um crescimento em
com os juros em alta, o crédito vai continuar torno de 1%. “Não é nenhuma tragédia, mas Em relação às eleições, o especialista não vê
crescendo, porque tem muito espaço para é um pibinho”, afirma. Entre os cenários mais espaço para uma visão pessimista. Segundo
crescer. E vocês têm um papel fundamen- pessimistas estão o da estagflação – cresci- ele, mais importante do que saber quem
tal nisso”, afirmou o economista em sua mento zero e inflação alta – e a recessão, que será o presidente eleito é tentar entender
palestra no 14º Simpósio do SINFAC-SP. já é prevista por algumas casas importantes, se sua agenda econômica será populista
como o Itaú, que estima queda de 0,5%. ou liberal. Nesse ponto, ele acredita que
Nogueira apresentou à plateia alguns dos tanto Lula quanto Bolsonaro – e mesmo os
cenários que considera mais prováveis para Alguns riscos externos podem fazer a postulantes à candidatura de terceira via –
o curto e médio prazo. Para ele, se 2021 está balança pender mais para o lado dos já mostraram que podem formar equipes
sendo de recuperação, 2022 será de cresci- pessimistas. O primeiro é a pandemia, uma liberais. “Espero, sinceramente, que a política
mento em desaceleração. “No ano que vem, variável que não se controla. Em alguns não atrapalhe muito – mesmo sabendo que
o mundo desacelera, mas ainda mantém países o número de casos está voltando um pouco ela vai atrapalhar – e que a gente
um bom crescimento de 4,5%. Em termos a crescer e ninguém pode afirmar o que consiga evoluir em alguma coisa na agenda
práticos para o Brasil, significa que o mundo acontecerá daqui para frente. Outro risco é de reformas, privatização ou uma reforma
não vai comprar tanto, mas ainda será um o temor de que uma grande bolha de crédito tributária, mesmo que fatiada. Espero que,
mundo que puxa os países emergentes”, imobiliário estoure na China. “Acredito que portanto, a gente não caia num cenário
acredita o economista que chama atenção eles crescerão cada vez menos, porém, sem de recessão no ano que vem”, finaliza.
REVISTA DO SINFAC / SÃO PAULO