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6          CAPA





        O QUE ESPERAR DA ECONOMIA


        Especialista alerta para riscos internos e externos que podem
        prejudicar o crescimento brasileiro nos próximos anos















                                                                               rupturas. Nada que possa jogar o mun-
                                                                               do em uma recessão. Mas não podemos
                                                                               ignorar esses riscos”, pondera Nogueira.

                                                                               Há ainda duas situações que influenciarão
                                                                               negativamente a economia brasileira: a alta
                                                                               dos juros nos EUA – que deve tirar dólares de
                                                                               países emergentes e desvalorizar ainda mais
                                                                               o câmbio por aqui – e os gargalos nas cadeias
                                                                               de produção. “Nos dois casos, a questão não
                                                                               é se isso vai acontecer, mas quando e em
                                                                               qual intensidade”, explica o economista.

                                                                               Internamente, há diversos pontos de aten-
        É praticamente unânime entre os analistas   para a inflação, que continuará sendo o gran-  ção – inflação, desemprego, crise hídrica,
        que 2022 será um ano de inflação alta, juros   de tema global nos próximos anos. “Além   insegurança jurídica e o risco fiscal – todos
        em elevação e atividade econômica fraca.   de o mundo todo ter injetado muito dinheiro   eles com potencial para assustar investi-
        Situação que tende a se agravar com a   na economia, a pandemia desestruturou as   dores. Nogueira, porém, chama atenção
        disputa eleitoral. Ainda assim, o economista   cadeias globais de produção”, completa.   para um deles em especial: a desigualda-
        e jornalista Luis Artur Nogueira acredita que   Para Nogueira, há quatro cenários possíveis   de. “Durante a pandemia, a desigualdade
        é possível que o ano que vem seja promissor   para a atividade econômica brasileira no ano   educacional aumentou o abismo entre
        sob alguns aspectos, sobretudo, no mercado   que vem. O primeiro é bastante otimista e   ensino público e privado. Teremos um
        de crédito. “Vocês têm um papel fundamen-  estima um crescimento de 2,1%. Está restrito,  gargalo enorme de mão de obra daqui
        tal no fomento e na questão do crescimento   porém, às projeções oficiais do governo. O   dez anos. Portanto, tão importante quanto
        econômico. O Brasil tem muitos obstáculos, o   segundo, que o economista acredita ser o   crescer é reduzir a desigualdade”, alertou.
        crédito não pode ser mais um deles. Mesmo   mais provável, prevê um crescimento em
        com os juros em alta, o crédito vai continuar   torno de 1%. “Não é nenhuma tragédia, mas   Em relação às eleições, o especialista não vê
        crescendo, porque tem muito espaço para   é um pibinho”, afirma. Entre os cenários mais   espaço para uma visão pessimista. Segundo
        crescer. E vocês têm um papel fundamen-  pessimistas estão o da estagflação – cresci-  ele, mais importante do que saber quem
        tal nisso”, afirmou o economista em sua   mento zero e inflação alta – e a recessão, que   será o presidente eleito é tentar entender
        palestra no 14º Simpósio do SINFAC-SP.   já é prevista por algumas casas importantes,   se sua agenda econômica será populista
                                            como o Itaú, que estima queda de 0,5%.   ou liberal. Nesse ponto, ele acredita que
        Nogueira apresentou à plateia alguns dos                               tanto Lula quanto Bolsonaro – e mesmo os
        cenários que considera mais prováveis para   Alguns riscos externos podem fazer a   postulantes à candidatura de terceira via –
        o curto e médio prazo. Para ele, se 2021 está   balança pender mais para o lado dos   já mostraram que podem formar equipes
        sendo de recuperação, 2022 será de cresci-  pessimistas. O primeiro é a pandemia, uma   liberais. “Espero, sinceramente, que a política
        mento em desaceleração. “No ano que vem,   variável que não se controla. Em alguns   não atrapalhe muito – mesmo sabendo que
        o mundo desacelera, mas ainda mantém   países o número de casos está voltando   um pouco ela vai atrapalhar – e que a gente
        um bom crescimento de 4,5%. Em termos   a crescer e ninguém pode afirmar o que   consiga evoluir em alguma coisa na agenda
        práticos para o Brasil, significa que o mundo   acontecerá daqui para frente. Outro risco é   de reformas, privatização ou uma reforma
        não vai comprar tanto, mas ainda será um   o temor de que uma grande bolha de crédito   tributária, mesmo que fatiada. Espero que,
        mundo que puxa os países emergentes”,   imobiliário estoure na China. “Acredito que   portanto, a gente não caia num cenário
        acredita o economista que chama atenção   eles crescerão cada vez menos, porém, sem   de recessão no ano que vem”, finaliza.




        REVISTA DO SINFAC / SÃO PAULO
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