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8 CAPA
AS AMEAÇAS E OPORTUNIDADES
DO PROMISSOR MERCADO DE
CRÉDITO BRASILEIRO
Uma das maiores especialistas no assunto fala da tendência de
digitalização do setor e das mudanças em curso na legislação
“Neste momento, estamos vivendo uma ção contrária, são generalistas”, afirma.
verdadeira revolução no crédito”. O alerta foi A mesma realidade que coloca os bancos
feito pela CEO e sócia fundadora da Captalys, sob pressão tem favorecido o surgimento
Margot Alyse Greenman, em sua participa- das fintechs, players digitais que já nascem
ção no 14º Simpósio do SINFAC-SP. Com a especializados em segmentos específicos,
experiência de quem comanda uma compa- como seguros, investimentos e empréstimos.
nhia especializada em fornecer infraestru- “Hoje, são quase 700 fintechs no Brasil. Em
turas para o mercado de crédito, a executiva 2019, eram 50. Estamos falando de uma ex-
acredita que o atual cenário de mudanças plosão de empresas digitais que não têm bar-
apresenta duas características muito fortes. reiras”, alerta Margot, que lembra que essas
A primeira é o intenso processo de digitaliza- companhias têm dados que podem se trans-
ção. “Ainda estamos no início dessa trajetória. formar em informação e, posteriormente, em
Mas, num futuro breve, o crédito será 100% produtos sob medida para os clientes. “Não
digital, essa é uma tendência global. As agên- se sabe ainda o tamanho da ameaça que
cias bancárias estão diminuindo, a represen- essas empresas representam”, completa.
tatividade do digital está aumentando e, em
determinados verticais de crédito, o digital já No Brasil, segundo a CEO da Captalys,
é o principal canal de contratação”, explica. as mudanças também seguem um ritmo
acelerado. A executiva chama atenção para
Outro ponto de atenção para entender a atual algumas características próprias do mercado Há, porém, muitos pontos positivos e que
conjuntura é o enfraquecimento dos bancos, de crédito brasileiro em relação ao resto do podem apontar para cenários promissores.
que, na visão da especialista, caminham na mundo. “É um mercado enorme, com quase O mais importante deles é a decisão de
direção contrária à tendência mundial. Para R$ 4 trilhões. Mas, é um mercado muito ruim: órgãos regulatórios do Brasil de fomentar
Margot, as instituições bancárias tradicio- concentrado, ineficiente, com 85% do crédito a concorrência no mercado de crédito, o
nais mantêm um modelo ultrapassado de nas mãos de cinco bancos, com custos que que vem deixando o ambiente macroeco-
produtos e serviços financeiros com pouca são os mais altos do mundo, segundo infor- nômico extremamente favorável. Margot
versatilidade e que são iguais para todo mações do Banco Mundial. Ou seja, trata-se cita o exemplo do PIX e do BC+ com sua
mundo. “O mundo está indo numa linha de de um mercado que, embora seja grande, é agenda focada em inclusão, concorrência,
especialização e os bancos vão na dire- muito menor do que poderia ser”, afirma. transparência e educação financeira.
O Open Banking é também um bom exem-
plo. A especialista ressalta que o modelo
brasileiro, diferentemente de outros países,
“As agências bancárias é focado na democratização da informação.
estão diminuindo, a “Crédito é informação. Com isso, estamos
falando de uma revolução potencial enorme
representatividade do nesse mercado. O Brasil é, em partes, muito
digital está aumentando ineficiente porque tem poucos agentes con-
e, em determinados trolando muita informação. E isso está sendo
desconstruído de forma obrigatória”, explica
verticais de crédito, o Margot, que destaca mudanças importantes
digital já é o principal ainda no mercado de recebíveis de cartão
canal de contratação” de crédito e nas duplicadas eletrônicas.
“Estamos diante de uma transformação
no Brasil, talvez, até mais forte do que
Margot Alyse Greenman, está acontecendo no mundo em função da
sócia fundadora da Captalys democratização dessa informação”, conclui.
REVISTA DO SINFAC / SÃO PAULO