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OS DESAFIOS E AS
OPORTUNIDADES DA ECONOMIA
Jornalista do Grupo RBS analisa conjuntura atual e traça possíveis cenários para os próximos meses
“Não vejo um cenário de terra arrasada. como o banco das startups, o SVB tem como quer o governo ao propor alteração
Nós já passamos por tantas crises, US$ 200 bilhões em ativos e atende a nas metas de inflação – o que, teoricamente,
algumas muito piores do que essa”. empresas do Vale do Silício e fundos de exigiria um esforço menor do Banco Central
Esse foi o tom da palestra da jornalista investimento voltados à tecnologia. para conter a alta dos preços. Para Giane,
Giane Guerra, do Grupo RBS, que fechou nem mesmo uma troca no comando do banco
o 1º Ciclo de Encontros ABRAFESC. Em Além de exigir uma reação rápida do seria capaz de forçar uma redução nos juros.
cerca de uma hora de apresentação, a Federal Reserve no sentido de garantir “Isso geraria um efeito tão ruim no mercado
jornalista elencou alguns dos principais o dinheiro dos clientes e evitar uma que o Executivo iria recuar”, acredita.
desafios de 2023 no campo econômico. quebradeira de empresas, a crise por lá
pode influenciar diretamente na questão Giane fez questão de ressaltar aos
O maior deles, para Giane, é o cenário dos juros, aqui no Brasil. “A percepção é empresários do fomento algumas
inflacionário. Ela alertou para projeções de que esse cenário gera aversão ao risco, oportunidades do atual momento. Segundo
de forte alta nos preços administrados, com investidores abandonando esses ativos ela, a economia brasileira aprendeu muito
com a retomada da cobrança de impostos mais arriscados. Isso, consequentemente, com a pandemia. Algumas reduções de
federais sobre a gasolina, por exemplo. As trava o crédito e a economia. Se o crédito custo e os avanços digitais do período se
contas de luz também devem subir com a travar mais que o projetado, o banco somam à reindustrialização de alguns
volta da cobrança do ICMS sobre taxas de central dos EUA deve flexibilizar o aperto setores que perceberam que não poderiam
transmissão e distribuição de energia. Outro monetário, o que tiraria a pressão sobre depender tanto da China, constatação que
ponto preocupante é a possível alta nos o BC do Brasil e poderia antecipar a abriu mercados por aqui. “Existem muitos
preços dos alimentos, que deve ser ainda redução dos juros por aqui”, explica. investimentos privados na gaveta. São
mais intensa que o previsto inicialmente. fábricas novas só esperando que o cenário
A manutenção da Selic em patamares fique mais claro. Tenho a expectativa de
A escassez de crédito para empresas é elevados foi tema central da conversa. que, quando a política econômica estiver
outro aspecto abordado pela jornalista. Ela Giane ressaltou que as previsões iniciais mais definida e quando houver uma
explica que a alta dos juros, responsável eram de que o BC reduziria a Selic no meio estabilidade no mercado financeiro, esses
pela elevação do custo do crédito, faz parte do ano. As projeções, porém, estão sendo investimentos vão acontecer. Mas, até
da reação dos principais bancos centrais revistas e a retomada dos cortes na taxa lá, ainda teremos alguns meses de alta
do mundo para conter a inflação pós- de juros só deve acontecer no fim de 2023 de recuperações judiciais, o que já está
pandemia. Esse movimento atingiu seu e, ainda assim, num ritmo menos intenso aparecendo nos indicadores”, explica.
ápice em março, com a quebra do Silicon que o esperado. Esse cenário, para ela, não
Valley Bank (SVB), nos EUA. Conhecido pode ser mudado com decisões arbitrárias,
ANO XV • Nº 55 • JANEIRO | FEVEREIRO | MARÇO • 2023