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seja muito mais, justamente por essa ne- Selic para conter a inflação. A alta nos preços é decorrente prin-
cessidade de curto prazo. O mercado de cipalmente de uma forte desvalorização cambial, do aumento sig-
crédito vai voltar logo ao patamar mais ro- nificativo do preço das commodities e, mais recentemente, dos
busto. efeitos da crise hídrica. Para nenhum desses elementos a Selic é
importante. Nos manuais de macroeconomia, aprendemos que, ao
Revista do SINFAC-SP aumentar a Selic, atraímos mais capital externo e, entrando mais
E as previsões para 2022? dólar, seu custo cai. Mas, mesmo que o BC coloque a taxa de juros
a 9% no final deste ano – o que é difícil de acontecer – a taxa de ju-
André Galhardo – Com o PIB crescendo 4% ros será diminuta, ou negativa, dependendo do comportamento do
em 2021, ano que vem a gente volta a con- IPCA. Ou seja, o fluxo de capital estrangeiro não está respondendo
versar com a nossa realidade: crescimento à Selic hoje. Ele está respondendo à melhora da atividade econô-
de 1%, sofrido, suado. E não podemos es- mica nos EUA, na Europa e, em alguma medida, no Brasil. Acho
quecer que, ano que vem, é ano de eleição, que o BC tem feito um excelente trabalho, mas não se controla a
com elementos importantes que podem im- inflação de custo com ancoragem de expectativas.
pactar no crédito. É bem provável que haja
um processo intenso de desvalorização do
câmbio, o que pode, por sua vez, impactar
na inflação, que pode impactar no mercado
de crédito. Está tudo muito aberto. Princi-
palmente porque vai desembocar tudo em
2022: um processo de retomada lento, as-
sociado a um ano de eleição e um possível
repique da inflação – isso, se houver, de fato,
uma queda a partir do segundo semestre.
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De que maneira a Selic
influencia nesse cenário?
André Galhardo – Se a demanda por cré-
dito de curto prazo é importante, não im-
porta o tamanho do spread. Mesmo que a
taxa Selic continue subindo, as pessoas e
as empresas vão continuar tomando em-
préstimo. Não é uma questão de escolha.
A Selic deve encerrar 2021, de acordo com
as nossas projeções da Análises Econômi-
cas, em 7% ao ano. A gente teve uma que-
da importante do spread bancário, mas o
custo da captação de crédito continua ele- Revista do SINFAC-SP
vadíssimo, apesar das quedas recentes A pandemia deixou alguma lição para o setor?
nos juros. Esse aumento da Selic vem no
momento em que os bancos querem re- André Galhardo – Acho que sim. Percebemos que a taxa de ju-
cuperar o lucro menor registrado no ano ros pode ser muito menor no Brasil. Isso acabou, de certa forma,
passado. Então, certamente o spread ban- reiterando o problema de concentração bancária. O Relatório de
cário vai responder de forma aguda a esse Estabilidade Financeira do BC mostra diversos cálculos que apon-
aumento dos juros. O custo do crédito no tam que o nível de concentração no mercado está diminuindo, mas
Brasil vai ficar muito mais caro no final de ainda é insuficiente. O BC vem trabalhando para diminuir essa con-
2021, do que estava no final de 2020, mas centração bancária. Isso poderia ter sido feito antes, mas a gente
isso não deve inibir o volume de crédito no esperou a pandemia, um ambiente totalmente catastrófico, para
sistema financeiro nacional. colocar a Selic a 2%. Não adianta falar de reforma previdenciária,
tributária, administrativa, se não entendermos o papel que o cré-
Revista do SINFAC-SP dito tem na atividade econômica brasileira.
E quanto à inflação?
André Galhardo – Acredito que o Banco
Central vem fazendo um trabalho brilhan-
te, mas não concordo com a utilização da
ANO XIV • Nº 48 • ABRIL | MAIO | JUNHO • 2021