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Revista do SINFAC-SP de elevação dos juros e da inflação, o que Revista do SINFAC-SP
O cenário internacional também pesa? pressiona cada vez mais o orçamento indivi- O setor de fomento comer-
dual do consumidor. Já havia uma tendência cial é uma alternativa?
Izis Ferreira – Sim, o conflito no Leste de aumento na inadimplência desde o final
Europeu é outra variável que deve prejudicar do ano passado e isso começou a ganhar Izis Ferreira – Sem dúvida. É uma atividade
o crescimento do varejo e a economia em mais força de janeiro para cá. A gente não vê, que tende a oferecer maior competição entre
geral, já que eleva preços de commodities pelo menos no curto prazo, uma mudança as instituições de crédito que operam no
alimentícias e metálicas e provoca alta no significativa neste cenário. Pelo contrário, sistema financeiro. Dentro do crédito para
preço do petróleo. Essas condições exi- as pressões inflacionárias vão continuar fomento mercantil, chegamos a uma média
gem cada vez mais subsídios do governo, acontecendo com o aumento da Selic, o que de 15% de juros cobrados ao ano. Isso é, em
principalmente, para gás de cozinha e diesel, vai dificultar a negociação das dívidas. Pela média, seis pontos percentuais abaixo das
itens que afetam diretamente o orçamento via do crédito, a gente também terá limita- outras linhas de crédito. Portanto, o fomento
das famílias de renda média e baixa. Essa ção do potencial de crescimento. Tivemos mercantil pode ser, sim, uma opção muito
revisão (de 0,9% para 0,5% na projeção para um aumento nas taxas de juros médias interessante para o varejo nesse contexto.
o varejo em 2022) reflete apenas o acirra- para pessoas físicas com recursos livres de Sobretudo do ponto de vista do menor custo
mento do cenário inflacionário até janeiro, pouco mais de oito pontos percentuais entre do crédito, que é o que mais conta, hoje, para
com o aumento dos preços dos alimentos janeiro de 2021 e janeiro de 2022. Os juros o empresário na hora de decidir o que fazer.
in natura, em função de quebra de safra chegaram a quase 46% ao ano para pessoas
e problemas climáticos. Ainda não leva físicas no crédito com recursos livres.
em conta as pressões inflacionárias que Revista do SINFAC-SP
surgiram desde o início da crise na Ucrânia. O pacote de medidas anunciadas pelo
Revista do SINFAC-SP governo, que prevê antecipação do 13º
O mercado de crédito voltado para para aposentados e liberação do FGTS,
Revista do SINFAC-SP as empresas passa pelo mesmo pro- terá algum impacto na economia?
A volta de medidas de restrição sani- blema de limitação de crescimento?
tária na China também prejudicam? Izis Ferreira – Terá, sim. Não são medidas
Izis Ferreira – Sim, tanto é que estão sendo novas, já foram feitas em outros momen-
Izis Ferreira – Não temos uma percepção discutidas novas rodadas de crédito com tos, mesmo durante a pandemia, mas é
expressiva de redução nas vendas por conta condições diferenciadas, como o Pronampe, algo perfeitamente plausível no momento
disso, principalmente no comércio interno. Isso porque estamos vendo que os financia- atual. Mas, como as famílias já estão muito
Pelo contrário, a China está num momento mentos contratados há algum tempo já estão endividadas, a parte maior desses recursos
de mudança na matriz energética e isso faz perdendo a carência e as empresas estão será destinada ao pagamento de dívidas e
com que eles demandem mais commodities sem conseguir pagar, porque a atividade está não deve ir diretamente para o consumo de
em geral, não só alimento, mas também muito fraca. Por isso, será necessário pensar bens e de serviços. A gente considera que,
metais. Isso tem ampliado a demanda. em formas para dar algum fôlego para as pelo menos, 30% desses recursos serão
empresas, pensando em novas modalida- destinados ao pagamento de dívidas e contas
des e em renovar as linhas de crédito com que já estão atrasadas, ou para dar algum
Revista do SINFAC-SP vantagens para as empresas. Os juros para fôlego a essas dívidas. Portanto, o impacto
Em relação ao endividamento das pessoas jurídicas nos recursos livres, sem no varejo será menor em razão desse alto
famílias qual o tamanho do problema? considerar as linhas de crédito com recur- endividamento. Além disso, há um movi-
sos direcionados, chegou a 21% em janeiro mento natural de maior cautela que fará com
Izis Ferreira – Estamos, hoje, com os 76,6% deste ano, alta de dez pontos percentuais que as famílias segurem mais o dinheiro.
das famílias endividadas no Brasil. Além de em relação a janeiro de 2020. Portanto, será
uma proporção muito alta de pessoas com preciso chamar para uma renegociação com
dívidas, temos também cada família alta- os juros possíveis, uma negociação que seja,
mente endividada, ou seja, as dívidas dentro de fato, interessante para as empresas. Afi-
de cada orçamento já tomam um percentual nal de contas, não é vantagem para ninguém
alto da renda. Isso acontece num momento que a inadimplência das empresas cresça.
ANO XIV • Nº 51 • JANEIRO | FEVEREIRO | MARÇO • 2022